domingo, 12 de outubro de 2008

O Dharma e a Psicanálise

Neste artigo, comentarei o pouco do meu conhecimento sobre Freud; as críticas à psicanálise freudiana; e, por estudar bastante a filosofia oriental, farei comparações entre ela e as idéias de Freud.Pré-conceitos.
Sempre houve e até hoje há muitas pessoas que vêem Freud como um pervertido. A psicanálise de Freud é considerada por muitos como algo extremista sexualmente. Mas, isso vem principalmente de opiniões desinformadas. Eu também pensava assim, até que conheci melhor a Psicanálise pelos meus estudos. Freud focou a sexualidade, mas também o desejo como um todo.
A teoria da Psicanálise tem como base o desejo. Desejo que não está relacionado com sexualidade unicamente, mas à busca constante do ser humano àquilo que o movimenta.Quando estava estudando o material de Freud na Escola Psicanalítica, percebi uma grande afinidade com o Budismo no que diz respeito aos desejos. Como estudo bastante à filosofia oriental, conheço uma definição interessante que traz sobre o desejo, segundo Buda: “A causa do sofrimento humano encontra-se, sem dúvida, nos desejos e nas ilusões das paixões mundanas. Se estes desejos e ilusões forem investigados em sua fonte, poderá se verificar que os mesmos se acham profundamente enraizados nos instintos físicos. Assim, o desejo tendo um grande vigor já em sua base, pode manifestar-se em tudo, inclusive em relação à morte. A isto se chama a Verdade da Causa do Sofrimento”. O budismo não é algo científico, apesar de ser atualmente estudado pela ciência, e é praticamente a única “religião” levada a sério nesse meio. Isto mostra o foco certeiro de Freud, que alcançou de uma forma científica a causa do desejo, o que é ainda mais difícil do que de forma filosófica, tendo que cientificamente é preciso provar dentro de métodos céticos ocidentais.
A psicanálise é à procura da verdade sobre nós mesmos e precisa ter como foco o sofrimento para que haja avanços. O papel de qualquer psicanalista ao iniciar o seu trabalho é focar no sofrimento, ou melhor, na sua causa, para que possa colaborar para o alívio dos sintomas que atormentam o paciente.As pessoas buscam o psicanalista para se curar, mas algumas delas, se irritam por debater sobre as suas questões de frente a uma realidade. Em um processo analítico da mente ocorrem contestações entre o desejo de se conhecer e a resistência inconsciente ao seu auto-conhecimento, e alguns pacientes/clientes, apesar de estarem buscando a cura, terão que se confrontar com angústias e aspectos que encobriam para si mesmos.Então, a psicanálise é realmente a procura da verdade sobre nós mesmos e deve focar no sofrimento, não pode ser diferente. O mundo está cheio de sofrimento. O nascimento, a velhice, a doença e a morte são sofrimentos, assim como é o fato de se aborrecer, estar perdendo uma pessoa querida ou de lutar em vão para satisfazer os desejos. Buda falava dos desejos e Freud explicou os processos dos desejos na mente.
Revolução sexual
A idéia de a sexualidade estar ausente na infância e só ser despertada no período de puberdade é um erro gravíssimo. Por causa dessa ignorância popular a vida de uma pessoa pode ser distorcida para sempre. Freud está intimamente ligado à "revolução sexual". A liberdade e a idéia de que a repressão é prejudicial foi uma revolução. Freud quebrou tabus em uma época bárbara, principalmente sobre a sexualidade.Os textos de Freud sobre a sexualidade infantil têm mais de cem anos, mas parecem ser modernos. São tão atuais e influentes que criaram no mundo ocidental um estado de consciência propício à explosão tântrica, para a qual os tempos de hoje estão amadurecidos. Tântrico, para que não sabe, tem como objetivo despertar a energia Kundalini, que é a energia vital que dá movimento à vida e, conseqüentemente, a todos os processos energéticos, emocionais, mentais e fisiológicos dos indivíduos. Por isso, o Tantra enfatiza tanto o sexo. É uma “nova” ordem filosófica.Nos meus estudos da filosofia atual, encontrei uma crítica a Freud a respeito da educação infantil, em que dizia que a teoria de Freud tem o intuito de tirar as responsabilidades de todos os problemas de uma pessoa e ainda argumentava que Freud é um dos maiores pessimistas e que não havia esperança para o ser humano no conceito freudiano, pois o padrão (problemas, traumas e questões mentais) é estabelecido na infância e para sempre. Mas Freud não foi pessimista e sim realista. Freud não tirou a esperança de que o ser humano poderia mudar, ao contrario, Freud criou a psicanálise justamente para curar as pessoas, ou seja, evitar a idéia de ser um indivíduo problemático para toda a vida. Além disso, Freud não teve o intuito de tirar as responsabilidades dos problemas da própria pessoa, culpando apenas a educação infantil, pois ele chegou a promulgar que o problema está na educação, mas não tirou da pessoa a responsabilidade de se cuidar, pelo contrario, ele trouxe uma solução, a psicanálise, e cabe à pessoa querer se curar ou não.
A psicanálise ajuda, mas quem realmente deve querer a cura é o “doente”.
Conclusão
Para mim, foi como uma pequena pesquisa, em que busquei conhecimentos no Budismo, na filosofia, e associei aos conceitos da psicanálise. Acredito que essa atitude é vital para um psicanalista ou para a psicanálise. Também foi útil para quebrar pré-conceitos sobre Freud e para conhecer um pouco os seus passos.
Por: Marcelo Vinícius Miranda Barros é filósofo, psicanalista e estudioso orientalista.

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