sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Por que meditar?

Todos querem a felicidade, mas apenas alguns de nós parecem encontrá-la. Em nossa busca pela satisfação, vamos de um relacionamento para outro, de um trabalho para outro, de um país para outro. Estudamos arte e medicina, treinamos para ser jogadores de tênis e datilógrafos; temos filhos e carros de corrida, escrevemos livros e plantamos flores. Gastamos nosso dinheiro com elaborados aparelhos de som estéreo, computadores pessoais, móveis confortáveis e férias ao sol. Ou tentamos nos voltar para a natureza, comer alimento integral, praticar yoga e meditar. Nada mais do que tudo o que fazemos é uma tentativa de encontrar a felicidade real e de evitar o sofrimento.
Nada há de errado com qualquer uma dessas coisas, nada há de errado em ter relacionamentos e posses. O problema é que as vemos como se elas tivessem alguma habilidade inerente de nos satisfazer, como se fossem uma causa de felicidade. Mas elas não podem ser, simplesmente por que elas não duram. Tudo, por natureza, muda constantemente e eventualmente desaparece: nosso corpo, nossos amigos, todos os nossos pertences, o ambiente. Nossa dependência sobre coisas impermanentes e nosso apego à felicidade que é como um arco-íris trazem apenas causas de desapontamento e tristeza, não satisfação e contentamento.
Nós experienciamos felicidade com coisas externas a nós, mas ela não nos satisfaz verdadeiramente ou nos livra de nossos problemas. É uma felicidade de qualidade ruim, inconfiável e de vida curta. Isto não significa que devamos abandonar nossos amigos e posses para sermos felizes. Ao invés disso, o que precisamos abandonar são os nossos conceitos errôneos sobre eles e nossas expectativas irrealistas do que eles possam fazer por nós.
Não apenas os vemos como permanentes e capazes de nos satisfazer; na raiz de todos os nossos problemas, está a nossa visão fundamentalmente errada da realidade. Acreditamos instintivamente que as pessoas e coisas existem em e por si mesmas, uma "coisidade" inerente. Isto significa que vemos as coisas como se tivessem certas qualidades que residissem naturalmente nelas, como se fossem, por sua própria parte, boas ou ruins, atrativas ou não. Estas qualidades parecem estar lá fora, nos próprios objetos, bem independentes do nosso ponto de vista e de tudo mais.
Nós pensamos, por exemplo, que o chocolate é inerentemente delicioso e que o sucesso é inerentemente satisfatório. Mas certamente, se eles fossem assim, nunca falhariam em nos dar prazer ou nos satisfazer, e cada um iria experienciá-los da mesma maneira.
Nossa idéia errônea é profundamente enraizada e habitual, ela colore todos os nossos relacionamentos e procedimentos com o mundo. Provavelmente, raramente questionamos se a maneira pela qual nós vemos as coisas é ou não a maneira pela qual realmente existem, mas uma fez que façamos isso, será óbvio que a nossa imagem da realidade é exagerada e parcial, que as qualidades boas ou más que nós vemos nas coisas são realmente criadas e projetas pela nossa própria mente.
De acordo com buddhismo, há uma felicidade duradoura e estável, e cada um tem o potencial para experienciá-la. As causas da felicidade estão dentro da nossa própria mente, e o método para atingi-la pode ser praticado por qualquer um, em qualquer lugar, em qualquer estilo de vida — vivendo na cidade, trabalhando oito horas, constituindo família, divertindo-se nos fins de semana.
Praticando este método — a meditação — podemos aprender a ser felizes a qualquer hora, em qualquer situação, mesmo nas difíceis e dolorosas. Conseqüentemente, podemos nos livrar de nossos problemas, como a insatisfação, o ódio, a ansiedade, e finalmente, ao realizar o verdadeiro modo das coisas existirem, vamos eliminar completamente a própria fonte de todos os estados perturbados da mente e, então, eles nunca mais surgirão novamente.

Sangye Khadro, How to Meditate (Wisdom Publications)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Alimentando pombos

Para tomar a fortaleza não-criada da natureza da mente, você precisa ir à fonte e reconhecer a exata origem de seus pensamentos. Do contrário, um pensamento fará surgir um segundo, então um terceiro e por aí vai. Rapidamente, você será assaltado pelas memórias do passado e pela ansiedade quanto ao futuro, e o puro estado desperto do momento presente será completamente obscurecido.Há uma história sobre um praticante que estava alimentando pombos com o arroz que tinha oferecido em seu altar, quando subitamente se lembrou dos numerosos inimigos que tinha antes de se devotar ao Dharma. Um pensamento surgiu para ele: "Há tantos pombos em minha porta agora. Se eu tivesse isso tudo de soldados naquela época, poderia facilmente ter eliminado meus inimigos".Essa idéia o obcecou até que ele não pôde mais controlar sua hostilidade e deixou seu retiro. Reuniu um bando de mercenários e foi guerrear com seus antigos inimigos. As ações negativas que ele cometeu depois começaram todas com um simples e iludido pensamento.Se você reconhecer a vacuidade de seus pensamentos, ao invés de solidificá-los, o surgimento e desaparecimento de cada um irá clarear e fortalecer sua realização da vacuidade.

O macaco e o peixe

O macaco vê o peixe na água e sofre.
Ele pensa que o único mundo é o seu.
O único. O melhor.
Ele sofre porque é Deus e sente compaixão.
Ele vê o peixe e diz:“Ele está se afogando”.
“Ele não pode respirar”.
Ele o tira da água e pensa "Eu o salvei."
Mas o peixe se retorce em sofrimento e morre.
É assim que eu te mostro a ilusão.
Trecho extraído do filme "O Buda".

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comece do começo

"Se você quer transformar o mundo, experimente primeiro promover o seu aperfeiçoamento pessoal e realizar inovações no seu próprio interior. Estas atitudes se refletirão em mudanças positivas no seu ambiente familiar. Deste ponto em diante, as mudanças se expandirão em proporções cada vez maiores." (Dalai Lama, O Livro de Dias, Sextante)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sentando e meditando

Em seu último ensinamento, Milarepa disse a Gampopa, "Você recebeu a transmissão inteira, dei todos os ensinamentos a você, como se eu tivesse esparramado água de um vaso para outro. Só há uma instrução essencial que não dei a você. Ela é muito secreta."

Milarepa acompanhou Gampopa até um rio, onde iriam se separar. Gampopa fez prostrações para partir e começou a atravessar, mas Milarepa chamou-o de volta, dizendo, "Você é realmente um bom discípulo. De qualquer modo, darei este último ensinamento."

Muito contente, Gampopa prostrou-se nove vezes e então esperou pela instrução. Milarepa virou de costas e levantou seu manto', mostrando suas nádegas a Gampopa e perguntando, "Você vê?"

Gampopa respondeu, "An... sim."

"Você realmente vê?"

Gampopa não estava certo do que deveria ver. Milarepa tinha calos em suas nádegas; pareciam como se fossem metade de carne e metade de pedra.

"Veja, é assim que alcancei a iluminação: sentando e meditando. Se você quiser alcança-la nesta vida, faça o mesmo esforço. Esse é o meu ensinamento final. Nada tenho a adicionar."

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Esquecer de si mesmo

Compreender o Caminho Budista é compreender a si mesmo. Compreender a si mesmo é esquecer de si mesmo. Esquecer a si mesmo é estar identificado a todas as coisas. Chegar a este lugar é jogar fora corpo e mente de si e outros. Neste estágio, até mesmo a compreensão estará abaixo de si, mas continuamente estará praticando, inconscientemente.

Texto estraído do Shobogenzo de Dôgen Zenji

domingo, 26 de outubro de 2008

Os Oito Versos que Transformam a Mente (Lojong Tsigyema)

1. Com a determinação de alcançar
O bem supremo em benefício de todos os seres sencientes,
Mais preciosos do que uma jóia mágica que realiza desejos,
Vou aprender a prezá-los e estimá-los no mais alto grau.

2. Sempre que estiver na companhia de outras pessoas, vou aprender
A pensar em minha pessoa como a mais insignificante dentre elas,
E, com todo respeito, considerá-las supremas,
Do fundo do meu coração.

3. Em todos os meus atos, vou aprender a examinar a minha mente
E, sempre que surgir uma emoção negativa,
Pondo em risco a mim mesmo e aos outros,
Vou, com firmeza, enfrentá-la e evitá-la.

4. Vou prezar os seres que têm natureza perversa
E aqueles sobre os quais pesam fortes negatividades e sofrimentos,
Como se eu tivesse encontrado um tesouro precioso,
Muito difícil de achar.

5. Quando os outros, por inveja, maltratarem a minha pessoa,
Ou a insultarem e caluniarem,
Vou aprender a aceitar a derrota,
E a eles oferecer a vitória.

6. Quando alguém a quem ajudei com grande esperança
Magoar ou ferir a minha pessoa, mesmo sem motivo,
Vou aprender a ver essa outra pessoa
Como um excelente guia espiritual.

7. Em suma, vou aprender a oferecer a todos, sem exceção,
Toda a ajuda e felicidade, por meios diretos e indiretos,
E a tomar sobre mim, em sigilo,
Todos os males e sofrimentos daqueles que foram minhas mães.

8. Vou aprender a manter estas práticas
Isentas das máculas das oito preocupações mundanas,
E, ao compreender todos os fenômenos como ilusórios,
Serei libertado da escravidão do apego.

As oito preocupações mundanas são:
1. Desejar elogios
2. Rejeitar críticas
3. Desejar o prazer
4. Rejeitar a dor
5. Desejar o ganho
6. Rejeitar a perda
7. Desejar a fama
8. Rejeitar ser ignorado

Texto composto por Geshe Langri Tangba. Extraído de "The Union of Bliss and Emptiness", de autoria de Sua Santidade o XIV Dalai Lama. Este texto foi introduzido no dia 27 de abril de 2006 por Sua Santidade o XIV Dalai Lama no Templo Zulai em Cotia/SP. Sua Santidade mesmo salientou que lê este texto todos os dias e recebeu esta transmissão do comentário de Kyabje Trijang Rinpoche. Lembrou ainda que deveríamos ler Lojong Tsigyema todos os dias e, assim incrementarmos nossa práticas do ideal do bodisatva.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Resumo da Doutrina Buddhista

As Quatro Nobres Verdades
1. Existe o Sofrimento. Sofrimento é: nascimento, velhice, doença, morte, estar na presença do que se detesta, estar longe do que se gosta, não obter o que se deseja, perder o que se deseja. “Sofrimento” significa a natureza insatisfatória de todas as experiências que vivemos.
2. Causas do Sofrimento. Os três venenos da mente são a causa de todo sofrimento: ignorância, desejo e aversão.
3. A Cessação do Sofrimento. Cessando os três venenos.
4. O Caminho para Cessação do Sofrimento. É o Nobre Caminho Óctuplo.

O Nobre Caminho Óctuplo
1. Compreensão Correta. Saber distinguir os nutrientes saudáveis dos não saudáveis, o pensamento errôneo do correto, a fala errônea da correta, etc. Compreender as Quatro Nobres verdades, o karma, a impermanência e o não-eu. É também uma profunda confiança no Caminho, e uma visão adequada da realidade.
2. Pensamento Correto. É o pensamento que está de acordo com a compreensão correta. Reflete a realidade das coisas, sem distorções subjetivas. É o pensamento que não provém e nem alimenta os três venenos da mente: ignorância, desejo, aversão. É cultivar uma mente de altruísmo, uma mente que busca o Caminho iluminado.
3. Fala Correta. Falar de forma calma e amorosa e ouvir com atenção e compaixão. Não mentir, caluniar, distorcer os fatos ou exagerar. Não ferir nenhum ser através de nossas palavras. Não falar inutilmente. Não semear a discórdia. Não falar mal dos outros. Nossas palavras devem sempre estar de acordo com o Caminho,devem sempre serem benéficas.
4. Ação Correta. Não-violentar; não roubar; não ter má conduta sexual; comer, beber e consumir apropriadamente.
5. Meio de Vida Correto. Encontrar uma forma de viver que não o obrigue a matar, fraudar, mentir, vender armas, drogas, bebidas ou escravos; não tirar a sorte.
6. Esforço Correto. É diligência, a perseverança no Caminho. Há quatro práticas ligadas ao esforço correto: não alimentar sementes não-sadias em nossa consciência; abandonar as sementes não-sadias já manifestas; alimentar as sementes sadias; manter as sementes sadias já manifestas. Esforço correto é abandonar a visão errônea e adotar a visão correta; abandonar o pensamento, a fala e a ação errônea e adotar o pensamento, a fala e a ação correta. Esforço correto, acima de tudo, é domar a sua mente.
7. Atenção Plena Correta. Atenção plena significa estar em pleno contato com o nosso corpo, sensações, emoções, pensamentos, formações mentais, e estados de consciência. É a prática de observar e cuidar de tudo o que aparece em nós, seja positivo ou negativo.
8. Concentração Correta. É a prática da meditação, zazen. É permanecer profundamente absorto aqui-e-agora, onde toda dualidade desaparece. A concentração correta é o resultado natural da prática dos outros itens do Caminho.Cada um dos aspectos do Caminho contém os outros sete.

Os itens 1 e 2 correspondem à Sabedoria; os itens 3, 4, 5 à Ética; e os itens 6, 7, 8 à Meditação.

Elementos Básicos do Buddhhismo
· Impermanência. Todas as coisas são impermanentes. Tudo muda o tempo todo sem parar. Nada é igual nem por um instante. Nada é estável. Um minuto atrás, nós éramos diferentes tanto física quanto mentalmente. O que nos faz sofrer não é a impermanência em si, mas o nosso desejo de que as coisas sejam permanentes enquanto elas não o são. Impermanência é movimento, é vida. As coisas só existem na sua forma e cor presentes.
· Não-eu. Nada que existe tem existência em si mesmo, separada e independente. Cada coisa precisa estar ligada com todo o universo para poder existir. Cada coisa é uma junção de elementos que não são ela mesma. Não existe nada que é separado do resto, que possa existir de forma independente e definitiva.
· Interdependência. Vazio. Nada pode existir por si só. Tudo é criado por várias condições, e todos os fenômenos estão inter-relacionados. É a Unicidade. Quem compreende profundamente esta verdade pratica a compaixão, pois vê que é um com tudo o que existe. Tal pessoa compreende um segredo da vida: que a felicidade só pode ser encontrada na compaixão e no altruísmo, e que seguir os nossos desejos egoístas só nos traz sofrimento e perturbação. A interdependência pode ser resumida no seguinte ensinamento do Buddha: “Vos ensinarei o Dharma: se isso existe, aquilo vem à existência; do surgir disso, surge aquilo; se isso não existe, aquilo não vem à existência; da cessação disto, aquilo cessa”. Todas as ondas (fenômenos) pertencem ao mesmo oceano (unidade, totalidade, verdade) da Vida.
· Karma. É a lei de causa e efeito. Construímos karma através das nossas ações de corpo, da fala e da mente. As ações virtuosas geram bons resultados e felicidade; as ações não-virtuosas geram más condições e sofrimento. A retribuição kármica se dá em três etapas do tempo: nessa mesma vida, na próxima vida, em vidas posteriores. Momento após momento nós geramos karma e criamos a nossa realidade.
· Samsara. Todos os seres estão sujeitos à roda do nascimento e da morte sucessivos. O Buddhismo acredita que as energias kármicas emanadas das nossas ações boas e más geram um novo corpo e uma nova mente de acordo com a natureza dos impulsos kármicos. Samsara em sânscrito significa “perambulação”.
· Nirvana. Nirvana é a Liberdade Incondicionada. É a liberação total do sofrimento, um estado de paz inabalável e de indescritível felicidade. É um estado além de todos os conceitos.
· As Três Práticas: Ética; Meditação; Sabedoria.
· Os Cinco Desejos Básicos: comida/bebida; sono; sexo; riquezas; fama.Os Três Tesouros: Buddha: O ser iluminado, ou o Absoluto; Dharma: os ensinamentos, o Caminho; Sangha: a comunidade de praticantes.
· Os Cinco Preceitos: 1. Não matar; 2. Não roubar; 3. Não mentir; 4. Não ter conduta sexual imprópria; 5. Não lidar com intoxicantes. Não seguir os preceitos não é "pecado"; é, simplesmente, ignorância. "Enquanto a má ação está verde, o perverso nela se satisfaz; mas, uma vez amadurecida, ela lhe traz frutos amargos." – Dhammapada, 119.
· As Duas Verdades: É a verdade absoluta e a relativa. Em termos relativos, é preciso praticar para extinguir o sofrimento; em termos absolutos, não há sofrimento, nem caminho, nem realização — a onda já é a água. Absoluto e relativo se encaixam perfeitamente, e as duas verdades se complementam. Devemos viver em contato tanto com o absoluto quanto com o relativo.

As Três Qualidades do Dharma
1. Impermanência: Todas as coisas são impermanentes. Tudo muda o tempo todo sem parar. Nada é igual nem por um instante. Nada existe que possa ser considerado um eu permanente. Um minuto atrás, você era diferente do que é agora, tanto física quanto mentalmente. O que nos faz sofrer não é a impermanência em si, mas o nosso desejo de que as coisas sejam permanentes enquanto elas não o são. Impermanência é movimento, é vida.
2. Não-eu, ou Vazio: Nada que existe tem existência em si mesmo, separada e independente. Cada coisa precisa estar ligada com todo o resto para poder existir. Cada coisa é uma junção de elementos que não são ela mesma. Nada possui uma essência estável e permanente, por isso as coisas só existem assim como elas são agora. As ondas (todas as existências particulares) são manifestações passageiras do mar (o Todo, o conjunto e a fonte de todas as condições).
3. Nirvana: Nirvana é o estado de absoluta liberdade e de completo silêncio do coração, além de todos os conceitos. Literalmente nirvana significa “extinção”: extinção das nossas ilusões, desejos, e outros estados mentais negativos. O nirvana já é a base da nossa existência, a natureza búdica sempre foi o nosso verdadeiro ser. O que precisamos é nos esforçar para compreender e manifestar a nossa natureza mais profunda.

As Três Portas da Liberação
1. Vazio (Sunyata):
O vazio é o Caminho do Meio entre a existência e a não-existência. Vazio significa que nada possui um eu. Quando as nossas ações emanam da consciência da natureza vazia da realidade, são ações iluminadas.
2. Ausência de Imagens (Animitta): Imagem é qualquer sinal que está na nossa consciência (sinal provindo de um dos seis sentidos). A realidade encontra-se além dos sinais. Tudo se manifesta através de imagens, mas as imagens nos enganam.
3. Ausência de Objetivo (Apranihita): Nada existe a ser feito ou realizado. A verdade mais profunda da existência é que nós já somos o todo, já somos a natureza de Buddha. Nesse sentido absoluto, nada nos falta. A ausência de objetivos é o que permite viver o momento, e ser felizes aqui e agora.

Os Quatro Pensamentos Incomensuráveis
1. Amor:
é o desejo de que os outros seres sejam felizes, e a ação nesse sentido. É um sentimento incondicional, que nasce da compreensão da unidade fundamental de todas as coisas.
2. Compaixão: é o desejo de que os outros não sofram e a ação para aliviar a dor alheia. Quando entramos em contato com o sofrimento do outro, a compaixão brota em nosso coração. Para isso precisamos de atenção plena.
3. Alegria: a alegria provém naturalmente de um coração que reconhece a preciosidade que é ter nascido como um ser humano e poder praticar o Dharma.
4. Equanimidade: é o desapego aos opostos, olhá-los de forma igual. Equanimidade significa imparcialidade, não discriminação, equilíbrio mental. É não discriminar “eu” e “outros”. É permanecer imóvel ao sofrer palavras e ações injustas, e ao ouvir elogios. É não permitir que surja a irritação, a amargura, o desânimo. É experimentar todas as sensações sem deixar surgir desejo ou aversão.

Os Cinco Agregados
1. Forma (rupa): é o nosso corpo físico.
2. Sensação (vedana): elas podem ser agradáveis, desagradáveis ou neutras. Toda/s as sensações são impermanentes e sem substância (como todos os outros quatro Agregados)
3. Percepções (samja): nossas percepções são sempre distorcidas por nossas aflições mentais já presentes: o medo, o desejo, a raiva.
4. Formações Mentais (samskara): existem 51 tipos de formações mentais, e duas delas são as sensações e as percepções. Esse Quarto Agregado é composto por todas as outras 49 formações mentais. Tudo que é feito de um outro elemento é uma “formação”.
5. Consciência (vijnana): é o alicerce sobre o qual erigimos nossas formações mentais.
Os Cinco Agregados não são sofrimento em si, mas produzem sofrimento ao nos apegarmos a eles.

As Seis Perfeições
1. Dana (Generosidade): é o doar, a caridade, a abertura do coração. É dar sem apego. Podemos dar coisas materiais, ensinamentos, ou a nossa presença, estabilidade e paz. Fazer algo com a consciência de seu valor absoluto também é dar.
2. Sila (Ética): é viver de acordo com os preceitos buddhistas.
3. Kshanti (Paciência): é a capacidade de tudo aceitar e de perdoar, sem rancor, as injustiças que nos foram cometidas. É alargar o nosso coração para que um punhado de sal não deixe nossa água salgada. É ser como a terra, que tudo acolhe sem reclamar ou discriminar. É absorver tudo o que nos acontece na vida. É semelhante à equanimidade.
4. Virya (Esforço): determinação, energia, perseverança. É não desanimar ou desistir. Não vacilar. Avançar sem recuar, decididamente. Nosso esforço deve ser correto, e não devemos nos apegar aos resultados.
5. Dhyana (Meditação): é a prática do zazen, a prática da atenção plena. É clarear e libertar a mente. É consumir-se por completo naquilo que se está fazendo, estando totalmente presente e consciente.
6. Prajna (Sabedoria): é a sabedoria da não-discriminação. É a capacidade de ver as coisas como elas são. Prajna Paramita é a mãe de todas as paramitas e a base de seu desenvolvimento. Prajna é a compreensão do vazio.As seis perfeições, ou paramitas são, em última análise, uma só.

As seis perfeições, ou paramitas são, em última análise, uma só.

Os Sete Fatores do Despertar
1. Atenção Plena
2. A investigação dos fenômenos
3. Esforço
4. Serenidade
5. Alegria
6. Concentração
7. Equanimidade

Buddha disse que, praticando a Atenção Plena, os Sete Fatores do Despertar se fazem presentes.

As Cinco Lembranças
1. Eu tenho a natureza daquilo que envelhece. Não há como escapar da velhice.
2. Eu tenho a natureza daquilo que adoece. Não há como escapar da doença.
3. Eu tenho a natureza daquilo que morre. Não há como escapar da morte.
4. Tudo que me é caro e todas as pessoas que amo tem a natureza daquilo que muda. Não há como não me separar deles.
5. Minhas ações de corpo, fala e mente são meus únicos pertences verdadeiros. Não há como escapar da conseqüência de minhas ações. Elas são o chão no qual eu piso.

Outros
· Os Três Mundos:
passado, presente, futuro.
· Os Três Reinos: o reino dos desejos, o reino da forma, o reino da não-forma.
· Os Três Tipos de Orgulho: achar-se superior aos outros; achar-se inferior aos outros; achar-se tão bom quanto qualquer um.
· Os Quatro Tipos de Apego: apego aos prazeres dos sentidos, apego às opiniões, apego às regras e ritos, apego à noção de um "eu".
· Os Cinco Poderes: fé, esforço, atenção, concentração, sabedoria.
· Os Seis Sentidos: visão, audição, olfato, paladar, tato e mente.
· Os Seis Grandes Elementos: terra, água, ar, fogo, espaço (akasha) e consciência.
· As Oito Consciências: As cinco primeiras consciências (os cinco sentidos); manovijnana (consciência mental); manas (intelecto, consciência discriminativa); alayavijnana (consciência armazenadora, mente inconsciente).
· Os Oito Aspectos da Iluminação: livre da ganância, capacidade de satisfazer-se; quietude; esforço diligente; memória correta; concentração; sabedoria; evitar discussões à toa.
· Os Doze Elos da Originação Interdependente: ignorância (avidya); ação intencional (samskara); consciência (vijnana); nome e forma (nama rupa); os seis sentidos; contato; sensação; desejo; apego, vir-a-ser; nascimento; velhice e morte.

Por: Giovanni Kakugen, retirado de: http://www.dharmanet.com.br/zen/resumo.htm

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Dharma-Buddha

Um monge perguntou ao mestre:
"Qual o significado de Dharma-Buddha?"
O mestre apontou e disse:
"O cipreste no jardim."
O monge ficou irritado, e disse:
"Não, não! Não use parábolas aludindo a coisas concretas! Quero uma explicação intelectual clara do termo!"
"Então eu não vou usar nada concreto, e serei intelectualmente claro," disse o mestre. O monge esperou um pouco, e vendo que o mestre não iria continuar fez a mesma pergunta:
"Então? Qual o significado de Dharma-Buddha?"
O mestre apontou e disse:
"O cipreste no jardim."

Talvez

Há um conto Taoísta sobre um velho fazendeiro que trabalhou em seu campo por muitos anos. Um dia seu cavalo fugiu. Ao saber da notícia, seus vizinhos vieram visitá-lo.
"Que má sorte!" eles disseram solidariamente.
"Talvez," o fazendeiro calmamente replicou. Na manhã seguinte o cavalo retornou, trazendo com ele três outros cavalos selvagens.
"Que maravilhoso!" os vizinhos exclamaram.
"Talvez," replicou o velho homem. No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos, foi derrubado e quebrou a perna. Os vizinhos novamente vieram para oferecer sua simpatia pela má fortuna.
"Que pena," disseram.
"Talvez," respondeu o fazendeiro. No próximo dia, oficiais militares vieram à vila para convocar todos os jovens ao serviço obrigatório no exército, que iria entrar em guerra. Vendo que o filho do velho homem estava com a perna quebrada, eles o dispensaram. Os vizinhos congratularam o fazendeiro pela forma com que as coisas tinham se virado a seu favor.
O velho olhou-os, e com um leve sorriso disse suavemente:
"Talvez."

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Bem e mal

Trecho extraido do capítulo 6 do Shobogenzo Zuimonki de Dôgen Zenji.

"Ao fazerem o bem e o mal, todos os iluminados consideram os fatos tão profundamente, que pessoas comuns não podem sondar tais pensamentos.

"Quando vivia o Mestre Sufragan Esshin, este ordenou a seu assistente que enxotasse um veado que pastava ali no seu jardim. Então um dos presentes contestou: 'Porque és tão sem compaixão? Porque não deixaste o pobre animal pastar da tua grama?' O outro respondeu: 'Se eu não fizer com que o enxotem, o veado se acostumará à presença humana, ocasião em que alguém o poderá matar. Foi por isto que o enxotei.'

"De fato, enxotar um pobre veado pode parecer duro, mas foi feito por uma compaixão muito profunda por ele."

Caminho do Meio


Se cortarmos um tronco de árvore e o jogarmos num rio e ele não afundar ou apodrecer, nem ficar preso nas margens do rio, esse tronco irá com certeza chegar ao mar. A nossa prática é igual. Se você praticar de acordo com o caminho estabelecido pelo Buda, seguindo-o com rigor, você irá transcender duas coisas. Quais duas? Exatamente os dois extremos que o Buda disse não ser o caminho do verdadeiro meditador - entregar-se ao prazer e entregar-se à dor. Essas são as duas margens no rio. Uma das margens do rio é a raiva, a outra a cobiça. Ou você pode dizer que uma margem é a felicidade e a outra a infelicidade. O "tronco" é a mente. À medida que "fluir rio abaixo" ela irá experimentar a felicidade e a infelicidade. Se a mente não se apegar a essa felicidade ou infelicidade, chegará ao "oceano" de Nibbana. Você deve ver que não existe nada além de felicidade e infelicidade surgindo e desaparecendo. Se você não "ficar preso" nessas coisas, então você estará no caminho de um verdadeiro meditador.


Esse é o ensinamento do Buda. Felicidade, infelicidade, cobiça e raiva simplesmente existem na Natureza de acordo com a invariável lei da natureza. A pessoa sábia não os segue ou estimula, ela não se apega a eles. Essa é a mente que não se entrega ao prazer e não se entrega à dor. É a prática correta. E como aquele tronco de madeira irá finalmente chegar ao oceano, assim também a mente que não se apega a esses dois extremos irá inevitavelmente alcançar a paz.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Não há tempo a perder

Terceiro verso do poema: Desejos para libertar-se das situações difícieis e perigosas do estado intermediário, o herói livrando-se do medo. Escrito pelo primeiro Panchen Lama.

Que possamos compreender que não há tempo a perder,
Pois a morte é definida, mas a hora da morte é indefinida.
O que se reuniu se separará e o que se acumulou será
consumido sem resíduos,
No fim da subida vem a descida,
a finalidade do nascimento é a morte.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Virtude

O Buda recomendou três critérios ao fazermos julgamentos morais. O primeiro podemos chamar de princípio da universalidade – agir em relação aos outros do mesmo modo que gostaríamos que eles agissem conosco. O segundo podemos chamar de princípio conseqüencial – para determinar se um comportamento é benéfico ou prejudicial é necessário avaliar as conseqüências tanto no agente como no paciente, ou seja, um comportamento que cause algum tipo de dano quer seja no agente ou no paciente deve ser evitado. O terceiro podemos chamar de princípio instrumental – um comportamento é benéfico se ele nos conduz para mais perto do objetivo ou prejudicial, se nos afasta dele. O objetivo último no Budismo é nibbana, um estado de pureza e paz mental, e tudo que conduz a esse objetivo será benéfico.
Essa abordagem utilitária em relação à ética fica ainda mais clara ao observarmos que o Buda usava com muito mais freqüência os termos ‘benéfico ou hábil’ e o seu oposto ‘prejudicial ou inábil’ no lugar de bom ou mal. Outro elemento importante na avaliação do comportamento é a intenção. Se uma ação está fundamentada em boas intenções, por exemplo, na generosidade e na compaixão, então, ela será considerada hábil. Portanto, avaliar o comportamento no Budismo requer mais do que simplesmente obedecer a certas regras ou mandamentos, exige que tenhamos plena consciência dos nossos pensamentos, palavras e ações, bem como dos nossos objetivos e aspirações.
Michael Beisert - Budismo Theravada - Cânone em Pali

O Quebrador de Pedras

Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito consigo mesmo e com sua posição na vida.
Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante. Através do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos e importantes figuras que freqüentavam a mansão.
"Quão poderoso é este mercador!" pensou o quebrador de pedras. Ele ficou muito invejoso disso e desejou que ele pudesse ser como o comerciante.
Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante, usufruindo mais luxos e poder do que ele jamais tinha imaginado, embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e ricos do que ele. Um dia um alto oficial do governo passou à sua frente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado por submissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos para afastar a plebe. Todos, não importa quão ricos, tinham que se curvar à sua passagem.
"Quão poderoso é este oficial!" ele pensou. "Gostaria de poder ser um alto oficial!"
Então ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de seda para qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas à sua volta. Era um dia de verão quente, e o oficial sentiu-se muito desconfortável na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Este fulgia orgulhoso no céu, indiferente pela sua reles presença abaixo.
"Quão poderoso é o Sol!" ele pensou. "Gostaria de ser o Sol!"
Então ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lançando seus raios para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldiçoado pelos fazendeiros e trabalhadores. Mas um dia uma gigantesca nuvem negra ficou entre ele e a terra, e seu calor não mais pôde alcançar o chão e tudo sobre ele.
"Quão poderosa é a nuvem de tempestade!" ele pensou "Gostaria de ser uma nuvem!"
Então ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas, causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estava sendo empurrado para longe com uma força descomunal, e soube que era o vento que fazia isso.
"Quão poderoso é o Vento!" ele pensou. "Gostaria de ser o vento!"
Então ele tornou-se o vento de furacão, soprando as telhas dos telhados das casas, desenraizando árvores, temido e odiado por todas as criaturas na terra. Mas em determinado momento ele encontrou algo que ele não foi capaz de mover nem um milímetro, não importasse o quanto ele soprasse em sua volta, lançando-lhe rajadas de ar. Ele viu que o objeto era uma grande e alta rocha.
"Quão poderosa é a rocha!" ele pensou. "Gostaria de ser uma rocha!"
Então ele tornou-se a rocha. Mais poderoso do que qualquer outra coisa na terra, eterno, inamovível. Mas enquanto ele estava lá, orgulhoso pela sua força, ele ouviu o som de um martelo batendo em um cinzel sobre uma dura superfície, e sentiu a si mesmo sendo despedaçado.
"O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?!?" pensou surpreso. Ele olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras.

domingo, 19 de outubro de 2008

Você tem certeza?

Era um momento no qual eu estava completamente apaixonada pela prática e finalmente tinha começado as minhas prostrações. O Rinpoche estava acessível e simpático, eu me sentia muito agradecida e estava achando aquilo tudo o máximo.
Em uma conversa com ele, ao agradecer a oportunidade de estar ali, eu disse: “Rinpoche, quero agradecer por finalmente ter encontrado o meu caminho. Agora tenho certeza que, mesmo que eu morra, sempre irei reencontrar o Darma nas próximas vidas.”
E ele respondeu: “Que bom que você sabe disso, pois eu mesmo não tenho essa certeza.” E deu risada….
Foi uma paulada. Ali, pela primeira vez, eu percebi, como um soco, a imensidão do meu orgulho.
[Contada por Irínia Taborda]

sábado, 18 de outubro de 2008

As 37 Práticas de Todos os Bodhisattvas

De Gyalsé Thokmé Zangpo

O Mestre vê todas as coisas que estão para além do vai e vêm,
E mesmo assim luta incansavelmente para o bem dos seres vivos –
Meu precioso guru inseparável do Senhor Avalokita,
Com respeito eu vos presto homenagem perpétua, com o meu corpo, palavra e mente.

Os perfeitos budas, que são a fonte de todo o beneficio e alegria,
Aparecem como seres através da realização do Dharma sagrado.
E isso depende de saber como praticar o Dharma,
Eu vou descrever as práticas de todos os herdeiros legítimos dos budas.

1. A prática de todos os Bodhisattvas é estudar, refletir e meditar.
Incansável, tanto de dia como de noite, sem nunca cair na ociosidade,
para libertar a si e aos outros deste oceano do samsara,
Tendo ganho este supremo vaso corporal - uma vida humana favorável e livre, que é tão
difícil de encontrar.

2. A prática de todos os Bodhisattvas é deixar para trás a sua terra natal,
onde o apego à família e aos amigos nos subjuga como uma enxurrada,
enquanto a aversão aos nossos inimigos nos rói interiormente como um fogo escarlate,
e a escuridão ilusória nos eclipsa, ou seja, torna incompreensível a linha de conduta que
devemos seguir e o que deixar para trás.

3. A prática de todos os Bodhisattvas é ir regularmente a lugares solitários,
evitando o que não é saudável, para que as emoções destrutivas gradualmente desapareçam
e, na ausência de distrações, a prática virtuosa naturalmente se fortalece, avançando
rapidamente. Com a consciência atenta e focalizada, adquirimos convicção nos
ensinamentos.

4. A prática de todos os Bodhisattvas é renunciar a todas as preocupações da vida.
Durante muito tempo fizemos amizades e relacionamentos com familiares, e
agora todos nós temos que seguir caminhos separados;
Riquezas e bens tão penosamente adquiridos, devem ser deixados para trás;
E a consciência, a convidada que mora no nosso corpo, também um dia deve partir.

5. A prática de todos os Bodhisattvas é evitar amigos destrutivos,
na companhia dos quais os três venenos da mente ficam mais fortes.
E por causa deles cada vez estudamos, refletimos e meditamos menos,
e tanto o amor como a compaixão esmorecem, até se extinguirem.

6. A prática de todos os Bodhisattvas é estimar os amigos espirituais,[2]
pensando neles como ainda mais preciosos que o próprio corpo.
Pois são eles que nos ajudam a nos livrar de todos os defeitos,
e que fazem com que as nossas virtudes cresçam ainda mais,
tal como a lua crescente.

7. A prática de todos os Bodhisattvas é tomar refugio nas Três Jóias,
pois elas nunca deixam sem resposta os protegidos que a elas apelam.
Os deuses comuns do mundo não podem ajudar ninguém
enquanto eles próprios estiverem na armadilha
do ciclo vicioso do samsara, não é assim?

8. A prática de todos os Bodhisattvas é nunca cometer um ato prejudicial,
mesmo que isso ponha a sua própria vida em risco,
pois o próprio Sábio ensinou que as ações negativas
quando chega a hora nos levam às múltiplas misérias dos mundos inferiores,
tão difíceis de suportar.

9. A prática de todos os Bodhisattvas é lutar para atingir o seu objetivo,
que é o estado supremo imutável, a libertação eterna,
pois a felicidade dos três reinos dura um só momento,
e logo vai embora, tal como gotas de orvalho em colinas de ervas.

10. A prática de todos os Bodhisattvas é desenvolver o bodhicitta,
assim como proporcionar a liberdade a todos os infinitos seres sensíveis.
Como seria possível encontrar a verdadeira felicidade enquanto
as nossas mães que cuidaram de nós através dos tempo, carregam uma dor?

11. A prática de todos os Bodhisattvas é fazer uma troca genuína
da felicidade pessoal e bem estar por todos os sofrimentos dos outros.
Toda a miséria vem da procura da felicidade pessoal só para si,
enquanto o estado de buda perfeito nasce do desejo do bem dos outros.

12. Mesmo se outros, sob a influência de um grande desejo, roubarem,
ou encorajarem os outros a roubar todas as riquezas que tenho,
dedicar-lhes totalmente o meu corpo, bens e todos os meus méritos
do passado, presente, e futuro – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

13. Mesmo que os outros queiram cortar a minha cabeça,
embora eu nada tenha feito de mal,
tomar sobre mim, com compaixão,
todos os males que eles acumularam – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

14. Mesmo que os outros declarem a toda gente
montes de coisas desagradáveis sobre mim,
retribuir-lhes, falando somente bem deles,
com uma mente cheia de amor – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

15. Mesmo que os outros exponham os meus erros escondidos
ou digam horrores sobre mim, quando discursam em grandes conferências,
pensar neles como amigos espirituais e inclinar-se
ante eles com respeito – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

16. Mesmo que os outros, de quem cuidamos como se fossem filhos,
se voltem contra mim e me tratem como inimigo,
olhá-los com dedicação e afeto, tal como uma mãe olha o seu filho mal-humorado – esta é a
prática de todos os Bodhisattvas.

17. Mesmo se outros, iguais ou inferiores a mim em intelecto, nível espiritual ou riqueza
com arrogância, me desprezam, para os homenagear, tal como o faria ao meu mestre,
inclino a minha cabeça perante eles – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

18. Mesmo sendo desamparado e ignorado por todos,
fraco devido a uma terrível doença e importunado por espíritos malignos, ainda assim
tomar sobre mim todas as doenças de todos os seres e ações nefastas, sem nunca perder a
bondade do meu coração – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

19. Mesmo sendo famoso e reverenciado por todos,
e tão rico como Vaishravana, o deus da riqueza.
Ciente da futilidade de toda a glória e riquezas deste mundo,
não ser vaidoso – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

20. A prática de todos os Bodhisattvas é controlar a mente,
com as forças do amor generoso e da compaixão.
Pois, a não ser que o adversário real – a minha própria ira – seja derrotada,
Os inimigos exteriores, mesmo que os conquiste, voltarão a aparecer.

21. A prática de todos os Bodhisattvas é afastar-se imediatamente
das coisas que levam ao desejo e ao apego.
Pois os prazeres dos sentidos são tal e qual a água salgada:
Quanto mais os provamos, mais a nossa sede aumenta.

22. A prática de todos os Bodhisattvas é nunca alimentar conceitos,
que envolvam as noções dualistas de perceber e ser percebido,
sabendo que todas estas aparências são a própria mente,
cuja natureza intrínseca está para sempre
além das limitações das idéias.

23. A prática de todos os Bodhisattvas é não se agarrar a nada
E quando vê coisas que considera agradáveis ou desagradáveis,
Deve considerá-las como um arco-íris no céu de verão –
bonito na aparência, mas na verdade desprovido de qualquer substância.

24. A prática de todos os Bodhisattvas é reconhecer a ilusão,
sejam eles confrontados com a adversidade ou infortúnio.
E como esses sofrimentos são como a morte de uma criança num sonho,
é tão cansativo agarrar-se às percepções ilusórias tendo-as como reais.

25. A prática de todos os Bodhisattvas é ser generoso,
sem esperanças de recompensas cármicas ou expectativas de prêmios.
Pois se aqueles que buscam a iluminação até dão os seus próprios corpos,
será necessário mencionar simples objetos e bens exteriores?

26. A prática de todos os Bodhisattvas é respeitar uma ética restritiva,
sem a mínima intenção de continuar na existência samsárica.
Sem disciplina ninguém jamais terá certeza do próprio bem estar,
E assim qualquer pensamento de beneficiar os outros será absurdo.

27. A prática de todos os Bodhisattvas é cultivar a paciência,
livre de qualquer traço de animosidade contra alguém.
Qualquer fonte de mal é como um tesouro principesco
para o bodhisattva que deseja ardentemente usufruir da riqueza da virtude.

28. A prática de todos os Bodhisattvas é lutar com diligente entusiasmo –
a fonte de todas as qualidades – quando trabalham para o bem de todos os que vivem;
vendo que mesmo os shravakas e pratyekaBuddhas, que só se esforçam para eles próprios –
dedicam a ele todos os seus esforços, como se urgentemente tentassem extinguir fogos por
cima das suas cabeças.

29. A prática de todos os Bodhisattvas é cultivar a concentração,
que transcende superiormente as quatro absorções sem forma,
sabendo que as aflições mentais são ultrapassadas inteiramente
ao alcançar com esforço uma intuição interior, acompanhada por uma calma estável.

30. A prática de todos os Bodhisattvas é cultivar a sabedoria,
para além das três esferas conceituais, aliadas aos meios hábeis.
Não é possível atingir o nível perfeito do despertar só através
das outras cinco paramitas, sem a sabedoria.

31. A prática de todos os Bodhisattvas é examinar-se
continuamente e livrar-se dos defeitos, tão logo apareçam.
Pois a não ser que façamos a checagem cuidadosa da nossa própria confusão,
alguém que parece mostrar que pratica o Dharma na verdade opera contra ele.

32. A prática de todos os Bodhisattvas é nunca falar desfavoravelmente
dos que caminham no grande veículo,
pois se, sobre a influência das emoções destrutivas,
eu falar das quedas dos outros Bodhisattvas, o erro será meu.

33. A prática de todos os Bodhisattvas é abandonar o apego
aos patronos, à família e amigos,
pois o estudo, a reflexão e a meditação diminuem
quando discussões e competições por honras e recompensas aparecem.

34. A prática de todos os Bodhisattvas é evitar palavras duras,
que possam ser consideradas desagradáveis e detestáveis pelos outros,
porque a linguagem ordinária perturba a mente dos seres,
e arruina a conduta do bodhisattva.

35. A prática de todos os Bodhisattvas é eliminar o apego
e todas as outras aflições mentais, tão logo apareçam,
tomando como armas os remédios apoiados na atenção plena e na vigilância
pois uma vez que as kleshas se tornam familiares, são difíceis de evitar.

36. Resumindo, para qualquer coisa que façamos,
examinemos sempre a consciência da nossa mente,
sempre em estado de alerta e com atenção plena,
fazer o bem aos outros – esta é a prática de todos os Bodhisattvas.

37. A prática de todos os Bodhisattvas é dedicar-se a atingir o despertar.
Toda a virtude ganha ao esforçar-se nesse caminho,
com a sabedoria que purifica as três esferas conceptuais,
pode assim fazer desaparecer o sofrimento dos seres infinitos.

Aqui expus para aqueles que querem seguir o caminho do bodhisattva,
As 37 práticas que devem ser adaptadas pelos herdeiros legitimos dos budas,
Baseado nos ensinamentos dos sutras, tantras, e tratados,
E seguindo as instruções dos grandes mestres do passado.

Como a minha inteligência é pouca e pouco estudos fiz,
Este não é um texto que vá satisfazer os entendidos
Mas como confiei nos sutras e no que os santos ensinaram
Eu sinto que verdadeiramente estes são os treinos autênticos,
dos herdeiros legítimos dos budas

Mas, as ondas enormes da actividade dos bodhisattvas
São difíceis para a mente de uma pessoa simples como eu, de apreender,
E assim imploro a compreensão de todos os santos perfeitos
Por qualquer contradição, irrelevâncias ou outros falhas, nele contidas.

Através do mérito que ganhei, possam todos os seres,
Gerar o sublime bodhichitta, tanto relativo como absoluto,
E através disso, tornarem-se iguais ao Senhor Avalokiteshvara,
Transcendendo os extremos da existência e da imobilidade.

Este texto foi composto numa cave perto de Ngulchu Rinchen pelo monge Thokmé, um professor em escrituras sagradas e dialéctica, para o seu bem e dos outros.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Os doze elos da Roda da Vida

1 - A ignorância – Avídia

É o primeiro elo da corrente kármica, ( vidya – sabedoria, visão, lucidez; Avidia – perda de visão) representado na ilustração por um velho cego, andando e guiando-se com ajuda de uma bengala. Devido à ignorância de sua verdadeira natureza, o homem comum erra pela vida, criando uma falsa imagem de si e do mundo, bem como uma condição existencial confusa. Esta é a condição sob a qual vive a maioria da humanidade: uma condição de existência sem nenhuma luz.

Luminosidade – a luminosidade já é própria da mente operando, ou seja, nós criamos. Nossa natureza primordial cria, dá luminosidade, nós temos uma liberdade de criar, e por termos essa capacidade de criar, criamos também a parcialidade. Assim se manifesta avidia. Avidia manifesta então dois aspectos: 1- a capacidade de se manifestar e 2 – a capacidade de ocultar.
Avidia é uma operação mental, quando se percebe algo, se constrói algo, se dá brilho para algo, se perde outros aspectos. Esta capacidade de criar é chamada delusão. Ao identificar avidia, vamos acessar uma realidade mágica, não é um processo causal. Nós estamos penetrando na percepção de um aspecto muito profundo da realidade, que não importa se a experiência é aversiva ou prazerosa, não nos preocupamos com o teor do objeto, o que importa é que seja qual for a experiência do objeto que venhamos a ter, toda essa experiência é inseparável do objeto de delusão. A essência da experiência de separatividade está na dependência da operação mental de avidia. Essa é a liberdade, no entanto, acabamos por esquecer que quem construiu a percepção da coisa fomos nós, ocultando outras. Essa é a inseparatividade do sujeito-objeto (Gyatso Rinpoche). Nós não só fazemos aparecer uma coisa, como fazemos desaparecer outras. Quando temos uma visão, aquela visão nos aprisiona em um certo sentido, porque nos impede de olhar outras caracterísitcas, de reconhecer aquilo de uma outra forma. O aspecto mais importante de avidia não é o surgimento, mas a ocultação. O surgimento é como uma liberdade, mas a ocultação é a própria ess6encia da prisão. Avidia opera ocultando mas, quando ela opera ocultando, ela oculta que ocultou. Ficamos presos em uma resposta. Tanha é teimosia mental. Quando estamos focados num aspecto fica difícil ver o outro, não queremos passar para outro aspecto. Quando começamos a pensar de um jeito não queremos mexer naquilo.
O objetivo deste conhecimento não é só para um entendimento mas, para uma prática de constantemente observar avidia operando, a percepção de que sempre há o aspecto de escolha, de liberdade.

2 - Marcas (Samskara) – aspiração

As estruturas surgem. Estas estruturas são chamadas Samskara (Skara – cicatriz. Samskara – conjunto de cicatrizes – marcas por hábito.) As estruturas internas começam a surgir a partir de avidia, a partir da criação. Nós geramos as estruturas a partir da delusão. Samskara são as marcas com as quais se opera. Eventualmente, pode-se gerar consciência sobre essas marcas. Elas atuam com ou sem consciência.
Impulsionado pela ignorância, o homem acumula um tipo de energia que se manifesta em atividades que acompanham a direção do padrão situacional, caracterizado pelo primeiro estágio. Estas atividades podem manifestar-se através do corpo, da fala e da mente, formando a base do caráter individual e o padrão kármico pessoal. Isto é simbolizado pela imagem da roda do oleiro sempre a girar, criando novas formas. Assim como o oleiro dá forma ao pote, da mesma maneira nós formamos nosso caráter e o nosso karma, moldando nosso próprio destino. O resultado das ações impulsivas e voluntárias torna-se a causa de uma nova ação (atividade) e constitui o caráter da nova consciência, assim formada pelas ações repetidas. Toda ação deixa a marca, esta é a lei da ação e reação chamada karma. Toda ação repetida cria um hábito de repeti-la várias vezes. Através das ações físicas, verbais e mentais damos forma a nossa futura consciência individual.

3 - Consciência (Vijnana) - movimento

Estes três primeiros níveis estão presentes mesmo quando nós não dispomos de um corpo físico. São três níveis sutis que nos permitem sonhar, nos permitem ressurgir também. De acordo com as marcas com as quais estamos atuando, geramos a nossa aspiração e o nosso movimento. O movimento de vijnana descreve uma responsividade. Não há responsividade que não gere a própria identidade de um eu. Responsividade substitui a lucidez, oculta avidia, e avidia provoca responsividade. Todos os objetos nos oferecem um mensagem. Nós perdemos a liberdade, porque atribuímos um significado direto sem nem perceber o que fazemos. O fato de termos atribuído o significado se manifesta pelo impulso que nos surge, pela responsividade que nos surge. Nós temos o impulso de ação, começamos a nos movimentar. Mas a ação é o carma. O carma nos impulsiona para movimentar. É o nosso carma que escolhe significados, escolhe a nossa ação, ele nos impulsiona naturalmente de forma que nos cega. Ele oferece certezas.
Quando estamos lúcidos, a delusão já não é mais vista como um processo de engano. Quando a delusão se oferece, ela já é a própria luminosidade da mente atuando. Quando o movimento é feito, não há perda da visão ampla.

4 - Corpo-Mente (Nama-rupa) – buscando a materialidade

A consciência, pulando de objetos dos sentidos para objetos da imaginação, pode facilmente polarizar-se em formas materiais (corpo) ou em funções mentais (mente). Como termo coletivo, corpo-mente indica o íntimo funcionamento das funções físicas e mentais como um todo inseparável e a consciência é a base dessa combinação, a precondição do organismo psicológico, no qual a íntima relação entre as funções físicas e mentais é simbolizada por duas pessoas dentro de um barco. Os aspectos sutis flutuam, mas se colocarmos objetos que nos evocam esses aspectos sutis passamos a tornar aqueles aspectos sutis mais permanentes. Os aspectos mentais abstratos se beneficiam de uma materialidade. Começamos então, a procurar a materialidade com a intenção de sustentar os estados mentais sutis. Quando entramos no quarto elo, nós, inconscientemente, descobrimos que certas coisas são agradáveis e outras não. Nós percebemos claramente que os objetos, a materialidade, têm o poder de sustentar estados mentais específicos. De um modo geral, nós estamos inconscientes disso. Neste ponto, de nama-rupa, nós ainda não temos o bjeto. Começamos a desejar o objeto, por isso que simbolizado por um barqueiro. Nós temos aquela aspiração mas ainda não encontramos o objeto correspondente que possa sustentar aquela aspiração. É como o barqueiro navagando no rio buscando encontrar um lugar – o barqueiro ainda o está procurando. Mas esta procura tem um filtro, que é determinado pelas marcas mentais, este filtro é definido pelos três elos anteriores, avidia, samskara e vijnana. Tudo o que conectamos a nível de nama-rupa parece conosco mesmos. Nós nos identificamos com certos objetos, porque eles sustentam componentes que acreditamos ser nós mesmos.

5 - Os seis sentidos (Shadayatana)

O íntimo funcionamento do organismo psicológico (nome-forma) é distinguido mais adiante pela formação e ação dos seis sentidos: vista, audição, olfato, paladar, tato e o sexto sentido, possibilitando experiência não ligada aos cinco primeiros. O sexto sentido é mental e refere-se, sobretudo a capacidade de pensar, memorizar, imaginar, visualizar etc. Estas faculdades são como janelas de uma casa, através das quais podemos contatar o mundo exterior. Por essa razão, são simbolizadas por uma casa com seis janelas. Representa nossa materialidade física. Quando estamos operando avidia, vemos que se trata de um processo de construção de escolhas. O aspecto de delusão necessita que tenhamos uma conexão com a matéria. O sentido que vamo9s atribuir está ligado às nossas aspirações. Não existe um Shadayatana sem uma estrutura anterior. As teorias, os postulados, as visões, todas elas estão manifestadas no equipamento.

6 - Contato (Spasha)

Este elo representa o contato dos sentidos com seus objetos exteriores: a vista, o contato com as cores e as formas; a audição com os sons; o olfato com os odores; o paladar com os gostos; o tato com as texturas; e a mente com as imagens, idéias, pensamentos, lembranças etc.. Esse contato causa impressões correspondentes ao modo particular de sentir que foi ativado. O contato é simbolizado por um casal abraçando-se, ou por um bebê no seio de sua mãe. É quando nós usamos aquela materialidade, como se fosse a nossa expressão, é o corpo que está operando no seu universo. A delusão está operando firme.

7 - Sensação (Vedana) – agradável – desagradável –indiferente.

A sensação é o resultado do contato dos sentidos com seus objetos exteriores, que pode ser agradável, desagradável ou neutra. É simbolizada por um homem tendo a vista furada por uma flecha, experimentando uma sensação muito intensa. Neste momento, a pessoa ficou cega pela segunda vez. Primeiro, por causa de avidia e agora por vedana, ela própria enfia a flecha no olho. Todas as etapas anteriores eram inconscientes. A partir desse momento, ela se torna consciente. Tudo o que ela poderá ver será o gostar ou não gostar. Ela simplifica todo o processo anterior pelo gostar ou não gostar. As pessoas tem muitas certezas, se movem dizendo: “eu gosto disso, não gosto daquilo, quero isso, não quero aquilo”. Aquilo dá um sentido de propósito, uma sensação de vida, de identidade, de movimento.

8 - Desejo (Trishna) propósito - potencializar

O desejo segue compulsiva e automaticamente a sensação experimentada. Se a sensação for desagradável, o desejo será de aniquilar ou destruir, o quê pode gerar um comportamento psicopático; se a sensação for agradável ou neutra, o desejo será perpetuar esse estado temporário de equilíbrio e paz. O desejo é simbolizado por um homem a quem uma mulher suaviza a sede. Pode-se dizer que Trishna é a aspiração da expansão daquilo que se provou. Podemos também incluir a ação, por exemplo de plantar uma arvore para se ter o fruto desejado.

9 - Apego (Upadana)

A tendência do desejo é transformar-se em apego ao objeto desejado, quando se consegue obtê-lo. O apego é simbolizado por um homem colhendo frutos de uma arvore e juntando-os avidamente num cesto. Porque planejamos, plantamos, vamos colher com certeza. Por que plantamos a árvore? Porque um dia provamos o fruto e gostamos, agora queremos mais, então, planejamos um pomar. Aquilo está produzindo e nós, muito felizes, estamos colhendo o resultado.

10 - Existência (Bava)

O apego engendra a continuidade existencial de tendências (cármicas) as quais darão frutos no futuro. Bava, é ao mesmo tempo identidade e mundo. Os dois são inseparáveis.Nós selamos todas as experiências anteriores, o “gosto e o não-gosto”, está tudo selado. Agora, tudo brotou na forma de visão de mundo, visão de identidade. Surgimos com uma identidade em um mundo. O “gosto, não gosto”, já quase que desaparece porque nós, simplesmente, automatizamos o processo, nós “sabemos como as coisas são, como elas funcionam”.

11 - Nascimento (Jeti)

A formação de tendências leva ao nascimento numa nova existência. Isso se refere à frutificação das tendências. É a primeira aparição de um novo padrão existencial (num dos seis estados psicológicos ou seis reinos). O nascimento numa situação existencial é simbolizado por uma mulher dando a luz a um bebê. Jeti significa “circunstâncias da vida”, isto é tudo que nasce, cresce, envelhece, vem a decrepitude e a morte. O ponto importante das circunstâncias da vida é o fato de que estamos sempre ocupados, tentando equilibrar alguma coisa.

12 - Velhice e morte (Jana-marana)

Tudo o quê nasce está sujeito à morte. Morte significa dissolução de bava, ou seja, a identidade e o mundo correspondente. Uma vez que uma nova situação existencial nasce, é inevitável que as condições que deram nascimento mudarão. Isso aponta ao fato da inevitabilidade da velhice e da morte. A velhice (decomposição) afeta todas as estruturas; quando ocorre a cessação da continuidade existencial, falamos de morte. A morte é simbolizada por um homem carregando um cadáver (enrolado num lençol amarrado às costas, de acordo com a tradição tibetana) ao cemitério. Quando nos aproximamos da morte, sabemos muito bem o que não queremos que aconteça novamente. Nós temos raiva, dores, rancores, aversões. Dizemos : “Tudo isso aconteceu por causa de...”, poderíamos fazer uma lista. Ao mesmo tempo, dizemos: “eu perdi as seguintes coisas maravilhosas, eu não gostaria de ter me privado de”. Nesse momento surge na nossa mente todos os seres queridos, todas as situações favoráveis que naquele momento não temos mais. No momento da morte, nós temos duas aspirações: Uma de nunca reencontrar as condições negativas que tivemos que passar. A outra é de nos fixarmos de maneira realmente lúcida, nítida, decidida com os aspectos positivos. Assim, com essas duas aspirações, saltamos diretamente para nama-rupa, porque estas duas aspirações representam a estrutura de avidia, samskara e vijnana, que se preservam. Nos desejamos apenas estabilizar as estruturas que nos garantem a felicidade e o afastamento do sofrimento.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Mente é como uma mão amarrada

Nossa mente pode ser comparada a uma mão que está atada ou amarrada; neste caso, a mente está presa pela representação de nosso "eu", "ego" ou "self", assim como pelos conceitos e fixações que pertencem a esta idéia. Pouco a pouco, a prática do Dharma elimina estas fixações e conceitos autoestimadores e, assim como uma mão desatada pode se abrir, a mente se abre e ganha todos os tipos de possibilidades de atividade. Ela então descobre muitas qualidades e habilidades, como a mão livre de suas amarras. As qualidades que são lentamente reveladas são aquelas da iluminação, da mente pura.
Fonte: A mente - Clara Luz /
Kalu Rinpochê ( Foi um dos mais renomados Mestres tibetanos contemporâneos da escola Karmakagyupta )
Livro Compilado por Denis Töndrup, traduzido por Maria Montenegro, prefácio de S.S. o Dalai Lama.
Boston: Wisdom, 1997.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Importância do Zazen

Trechos extraidos do capítulo 1 do Shobogenzo Zuimonki de Dôgen Zenji.

"Somos chamados de discípulos de Buddha porque tentamos alcançar imediatamente o estado de Buddha seguindo seus ensinamentos. Devemos pois praticar o Caminho seguindo apenas o ensinamento de Buddha. A verdadeira prática buddhista é a prática incessante de zazen. Este é o primeiro princípio de um monastério Zen. Devemos pensar nisto."

"O zazen com todas as nossas forças é o verdadeiro Caminho a ser seguido para ganharmos a iluminação. Este zazen nada mais é do que o Caminho transmitido de Buddha para Buddha."

"É ao zazen que os seguidores de Bodhidharma têm se dedicado intensamente como o Caminho único transmitido de Buddha para Buddha. A prática de zazen está aberta para todos nós, sejamos de capacidade alta, média ou pouca."

"Quando praticava com meu falecido mestre Jü-tsung na China, interei-me desta prática, e daí em diante era tudo o que eu fazia, zazen dia e noite, sem parar. Durante a época de calor ou frio extremos, muitos monges detinham suas práticas por certo tempo, para não ficarem doentes. Aí eu pensava: 'Mesmo que eu venha a falecer, praticarei o zazen com todas as minhas forças. Que adianta negligenciar o zazen e cuidar do corpo, quando não estamos sequer doentes.' Era meu propósito ficar doente e morrer depois de praticar o zazen. 'Caso eu morra buscando o zazen, este meu excelente mestre Zen aqui na China,40 me fará uma cerimônia fúnebre, e com isto eu estarei intimamente conectado com o buddhismo. Se eu morresse no Japão, onde encontraria lá um tal mestre Zen, que soubesse fazer esta cerimônia? Se eu mantiver minha prática de zazen e vier a morrer antes de me iluminar, eu renascerei como monge graças a isto. Que adianta viver muito, sem o zazen? Mais ainda, seria um desperdício morrer de repente ou naufragar no oceano tentando preservar inutilmente nossa saúde.' Depois destas considerações eu fiz zazen com todas as forças, dia e noite, mas me vi completamente saudável e livre de doenças.

"'Agora vocês se animem para praticar zazen com toda a determinação, e todos se iluminarão.' Assim falava meu falecido mestre Jü-tsung."

domingo, 12 de outubro de 2008

Psicologia Analítica de Jung e o Dharma

Palestra proferida por Antonio C Jorge, na Loja Teosófica Liberdade, em 30/03/07
Abordagem: Elementos do budismo, da escola tibetana, assim como elementos da psicologia analítica fundada por Jung.
Para ler a palestra clique aqui
Conteúdo:
História do Budismo, 2.600 a.c;
Buda expõe a natureza do sofrimento, as 4 Nobres Verdades e o Caminho da Cura;
Histograma do processo do Sofrimento;
Processo de disciplina mental;
Meditação;
Guru e Terapeuta;
Renuncia aos padrões da sociedade;
Mandalas;
Carl Gustav Jung, 1875;
Amizade com Freud;
Metafísica e espiritualismo;
6 anos isolado em uma torre;
Conhecimento oriental;
Inconsciente Coletivo;
Quadro Comparativo Buda x Jung;
Considerações Finais

Fonte: http://www.teosofia-liberdade.org.br/index.php/arquivos/artigos/44-artigos/137-budismo-tibetano-e-a-psicologia-analitica-de-jung.html

O Dharma e a Psicanálise

Neste artigo, comentarei o pouco do meu conhecimento sobre Freud; as críticas à psicanálise freudiana; e, por estudar bastante a filosofia oriental, farei comparações entre ela e as idéias de Freud.Pré-conceitos.
Sempre houve e até hoje há muitas pessoas que vêem Freud como um pervertido. A psicanálise de Freud é considerada por muitos como algo extremista sexualmente. Mas, isso vem principalmente de opiniões desinformadas. Eu também pensava assim, até que conheci melhor a Psicanálise pelos meus estudos. Freud focou a sexualidade, mas também o desejo como um todo.
A teoria da Psicanálise tem como base o desejo. Desejo que não está relacionado com sexualidade unicamente, mas à busca constante do ser humano àquilo que o movimenta.Quando estava estudando o material de Freud na Escola Psicanalítica, percebi uma grande afinidade com o Budismo no que diz respeito aos desejos. Como estudo bastante à filosofia oriental, conheço uma definição interessante que traz sobre o desejo, segundo Buda: “A causa do sofrimento humano encontra-se, sem dúvida, nos desejos e nas ilusões das paixões mundanas. Se estes desejos e ilusões forem investigados em sua fonte, poderá se verificar que os mesmos se acham profundamente enraizados nos instintos físicos. Assim, o desejo tendo um grande vigor já em sua base, pode manifestar-se em tudo, inclusive em relação à morte. A isto se chama a Verdade da Causa do Sofrimento”. O budismo não é algo científico, apesar de ser atualmente estudado pela ciência, e é praticamente a única “religião” levada a sério nesse meio. Isto mostra o foco certeiro de Freud, que alcançou de uma forma científica a causa do desejo, o que é ainda mais difícil do que de forma filosófica, tendo que cientificamente é preciso provar dentro de métodos céticos ocidentais.
A psicanálise é à procura da verdade sobre nós mesmos e precisa ter como foco o sofrimento para que haja avanços. O papel de qualquer psicanalista ao iniciar o seu trabalho é focar no sofrimento, ou melhor, na sua causa, para que possa colaborar para o alívio dos sintomas que atormentam o paciente.As pessoas buscam o psicanalista para se curar, mas algumas delas, se irritam por debater sobre as suas questões de frente a uma realidade. Em um processo analítico da mente ocorrem contestações entre o desejo de se conhecer e a resistência inconsciente ao seu auto-conhecimento, e alguns pacientes/clientes, apesar de estarem buscando a cura, terão que se confrontar com angústias e aspectos que encobriam para si mesmos.Então, a psicanálise é realmente a procura da verdade sobre nós mesmos e deve focar no sofrimento, não pode ser diferente. O mundo está cheio de sofrimento. O nascimento, a velhice, a doença e a morte são sofrimentos, assim como é o fato de se aborrecer, estar perdendo uma pessoa querida ou de lutar em vão para satisfazer os desejos. Buda falava dos desejos e Freud explicou os processos dos desejos na mente.
Revolução sexual
A idéia de a sexualidade estar ausente na infância e só ser despertada no período de puberdade é um erro gravíssimo. Por causa dessa ignorância popular a vida de uma pessoa pode ser distorcida para sempre. Freud está intimamente ligado à "revolução sexual". A liberdade e a idéia de que a repressão é prejudicial foi uma revolução. Freud quebrou tabus em uma época bárbara, principalmente sobre a sexualidade.Os textos de Freud sobre a sexualidade infantil têm mais de cem anos, mas parecem ser modernos. São tão atuais e influentes que criaram no mundo ocidental um estado de consciência propício à explosão tântrica, para a qual os tempos de hoje estão amadurecidos. Tântrico, para que não sabe, tem como objetivo despertar a energia Kundalini, que é a energia vital que dá movimento à vida e, conseqüentemente, a todos os processos energéticos, emocionais, mentais e fisiológicos dos indivíduos. Por isso, o Tantra enfatiza tanto o sexo. É uma “nova” ordem filosófica.Nos meus estudos da filosofia atual, encontrei uma crítica a Freud a respeito da educação infantil, em que dizia que a teoria de Freud tem o intuito de tirar as responsabilidades de todos os problemas de uma pessoa e ainda argumentava que Freud é um dos maiores pessimistas e que não havia esperança para o ser humano no conceito freudiano, pois o padrão (problemas, traumas e questões mentais) é estabelecido na infância e para sempre. Mas Freud não foi pessimista e sim realista. Freud não tirou a esperança de que o ser humano poderia mudar, ao contrario, Freud criou a psicanálise justamente para curar as pessoas, ou seja, evitar a idéia de ser um indivíduo problemático para toda a vida. Além disso, Freud não teve o intuito de tirar as responsabilidades dos problemas da própria pessoa, culpando apenas a educação infantil, pois ele chegou a promulgar que o problema está na educação, mas não tirou da pessoa a responsabilidade de se cuidar, pelo contrario, ele trouxe uma solução, a psicanálise, e cabe à pessoa querer se curar ou não.
A psicanálise ajuda, mas quem realmente deve querer a cura é o “doente”.
Conclusão
Para mim, foi como uma pequena pesquisa, em que busquei conhecimentos no Budismo, na filosofia, e associei aos conceitos da psicanálise. Acredito que essa atitude é vital para um psicanalista ou para a psicanálise. Também foi útil para quebrar pré-conceitos sobre Freud e para conhecer um pouco os seus passos.
Por: Marcelo Vinícius Miranda Barros é filósofo, psicanalista e estudioso orientalista.

sábado, 11 de outubro de 2008

O que é Dharma e Psicologia?

Dharma são os ensinamentos que Buda transmitiu aos alunos. Eles esão pautados na natureza da mente e suas emoções construtivas e destrutivas. Cada momento mental que for livre de avidez, ódio e ilusão tem certa força purificadora no fluxo da consciência; e em nossa longa evolução acumulamos muitas dessas forças purificadoras dentro de nossas mentes. Onde houver uma grande acumulação desses fatores benéficos de não-avidez, não-ódio e não-ilusão, resultam em todo tipo de felicidade, desde os prazeres sensuais mais mundanos até a mais elevada felicidade. Nada acontece por acaso ou sem causa.
O que é Psicologia?
Em linhas gerais a Psicologia é uma ciência que visa compreender as emoções, a forma de pensar e o comportamento do ser humano. Embora existam diversas áreas e linhas de atuação, a Psicologia busca o conhecimento e o desenvolvimento humano individualmente ou em grupo.
Fontes: