quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Propósito da Educação no Budismo

Como os ensinamentos budistas proporcionam um aprendizado contínuo desde a experiência cotidiana da vida? Qual a utilidade deste aprendizado?

A noção budista de educação como liberação

Usualmente a palavra aprendizado diz respeito a cognição, existe nela uma questão de acerto e erro. Ainda que no budismo tenhamos uma abordagem geral a respeito disso, que é quando o Buda diz : "Testem o que eu digo", ele não está se referindo apenas às coisas práticas, sejam elas racionais ou emocionais; refere-se à fé também. A fé diz respeito à vida como um todo, não pode ser facilmente testada. Ainda assim podemos considerar que exista o critério de acerto e erro, mas muito além do sentido ordinário que se dá para isso. Usualmente a questão da aprendizagem nas diferentes tradições, inclusive no budismo, se coloca num sentido muito amplo, de transformação interior.

Como usualmente a educação se limita a uma perspectiva cognitiva, é muito raro chegarmos a um nível emocional; acaba tratando-se apenas de uma questão de mudança de opinião. Muito mais raro ainda seria ir além dos padrões habituais da percepção sensorial em si, chegando ao nível cármico e sua transcendência.

A abordagem cognitiva não toca sequer nesse segundo nível, o emocional. Pensemos nos argentinos, que recentemente perderam um jogo de futebol para os brasileiros. Ainda que encontrem justificativas discursivas, o sentimento de dor segue. Outro exemplo: para uma pessoa que é demitida do trabalho, eventuais justificativas não consolam seu lado emocional. Ou ainda podemos ter uma namorada e perdê-la, e em nosso sofrimento não somos capazes de ver toda uma diversidade de outros seres maravilhosos ao nosso redor. Por outro lado, podemos saber que estamos com a mulher da nossa vida, mas, curiosamente, outros seres seguem tocando o nosso coração. No nível emocional a pessoa sabe que deve pedir um aumento a seu chefe. Os amigos dizem: "Sim, vá lá e peça o aumento." Mas quando chega o momento, ela não consegue bater na porta ou perde a voz, ou age de maneira brusca e irrita o chefe.

Além deste aspecto emocional invasivo que limita nossa vida e determina nossa experiência e forma de viver, existe um aspecto mais sutil, os carmas que nem percebemos que estão presentes, como os que definem nossa experiência sensorial — nossa visão, por exemplo. Uma pessoa pode operar com seus sentidos completamente atrelados a uma percepção cármica. O exemplo clássico: ver uma cobra onde há uma corda enrolada.

A operação mental legitima aquilo que cognitiva, emocional ou carmicamente percebemos. Estamos presos a este automatismo, e, através disto, os sentidos físicos nos introduzem em realidades virtuais. Se não fosse assim, os filmes no cinema não funcionariam, acontece que a emoção passa através dos sentidos físicos e viajamos mentalmente devido aos automatismos cármicos de resposta. Cada vez que vemos o filme, secretamente desejamos que o Titanic não afunde e conduzimos nossas emoções de acordo com os eventos na tela, mesmo que já saibamos o final do filme.

Toda a educação no budismo está baseada em recuperar a liberdade. O objetivo da educação budista não é adaptar o ser à experiência convencional de um mundo circundante, pré-existente e independente. Nossa experiência convencional é de que, se desaparecemos, o mundo continua. Convencionalmente vemos um mundo que nos acolhe, mas que é separado de nós. Esta é a experiência de samsara. No sentido budista, quando olhamos esta situação, não seguimos esta perspectiva. Os Budas olham esta situação de outra maneira, eles foram além dos diversos processos ilusórios da mente.

Quando superamos estes três automatismos — o cognitivo, o emocional e o cármico (sutil) —, o mundo se transforma completamente. A forma de reconhecer nossa situação se transforma completamente. Uma vez que isto se altera, surge o ideal de liberação daquilo que nos produz uma experiência limitada. Assim, ao invés de tentar nos adaptar a este mundo, tentamos nos liberar dos automatismos que produzem as experiências limitadas. Esta é a perspectiva mais profunda de educação no budismo. De fato, este é também o sentido de liberação.

Isto não pode ser percebido pela maioria das pessoas; portanto, existem ensinamentos extensos, nos quais focamos os elementos de condicionamento etapa por etapa e utilizamos as ferramentas para liberá-los.

Ouvindo ensinamentos

Num sistema de educação budista é muito difícil acreditar que alguém possa avançar sem um guia. Não é má-vontade, é que as ilusões são muito profundas, e além do mais temos intranqüilidades próprias, internas. Ainda que estejamos escutando instruções, nossa mente divaga. Outras vezes começamos a refletir sobre o que ouvimos e perdemos o ensinamento seguinte.

Por isto no ensinamento budista começamos ouvindo sobre como ouvir. Começamos tentando desenraizar os obstáculos mais evidentes. O ouvir tem obstáculos imediatos. Precisamos desenraizar o que chamamos de três defeitos do pote. É fácil ver que diferentes seres têm diferentes tendências, e que é muito raro o pote ser realmente perfeito, ou seja, receptivo.

O primeiro defeito é o pote emborcado, no qual não se pode depositar nada. A pessoa chega para ouvir, mas não apreende nada. Há ensinamentos sobre como um pote fica emborcado.

O segundo obstáculo é o do pote rachado virado para cima. O ensinamento entra no pote, mas não se mantém lá. O progresso é muito lento. A pessoa acredita que aprendeu, mas logo em seguida tudo se foi, e ela não sabe o que aconteceu.

Há o pote envenenado, que é o caso mais grave. Nem sempre os ensinamentos podem ser dados, pois o pote pode estar contaminado, corrompendo tudo o que nele é depositado.

É importante que os ouvintes sejam bons potes. Pode acontecer de ouvirem e gerarem amargor, oposição ou misturarem os ensinamentos com suas próprias teorias, continuando a operar dentro de seus contextos limitados. Isto significa utilizar os ensinamentos para gerar habilidades capazes de produzir vitórias transitórias, ou seja, vitórias com todos os obstáculos inerentes à roda da vida.

A motivação delimita os resultados

A primeira coisa de que precisamos é sabedoria do ouvir. Então surge a segunda parte dos ensinamentos: motivação e resultado. Este ensinamento é muito importante para organizações não-religiosas, pois a maioria de seus objetivos são impermanentes. Vivemos num tempo em que os objetivos estáveis são praticamente desconhecidos.

Se tivéssemos a lâmpada de Aladim e fizéssemos os três pedidos, pediríamos comida, uma esposa e um palácio. Isto pode não ser uma boa forma de utilizar o poder extraordinário da lâmpada. E se o gênio dissesse: "Vou lhes dar uma quarta coisa, uma coisa que a impermanência não destrua", então talvez disséssemos: "Quero uma riqueza ilimitada." Mas mesmo as coisas muito grandes dentro da visão separativa são limitadas, entre elas a riqueza, seja do tamanho que for. Para nós é muito difícil avaliar uma coisa que não esteja nesta categoria de impermanência.

Então existe esta classe de ensinamentos sobre que é permanente e o que é impermanente. Não importa o que obtenhamos no mundo da existência cíclica. Neste mundo vamos estar sempre operando como equilibristas, às voltas com urgências, prioridades e ansiedades. Todos os seres ali dentro estão presos a uma atitude contínua e urgente. Assim, nesta primeira categoria de ensinamentos, somos levados a gerar uma motivação para ir além da impermanência, somos levados a desenvolver uma motivação para o que está além do espaço e do tempo, além do que chamamos de roda da vida.

Uma ação positiva

Logo em seguida recebemos os ensinamentos que explicitam a amplidão da nossa natureza e o aspecto de inseparatividade. Não se trata de fugir da roda da vida, o que buscamos de fato é um interesse muito maior pelos seres. Esta experiência é completamente diferente da experiência-raiz da roda da vida. A experiência da roda da vida está ligada a prazer e dor, desejo e aversão. Esta segunda experiência está baseada na capacidade de compreender e atuar de forma muito mais ampla que a própria identidade. A comprovação desta amplidão é a capacidade de se alegrar com experiências cada vez mais altruístas.

A primeira visão de transcendência é quando percebemos que nossa experiência de ser transcende nossa identidade. Ou seja, do ponto de vista de nossa experiência, nos alegramos de fazer certas ações em detrimento daquilo que consideramos lucros individuais. Este fato é muito importante.

Quando os Budas, os grandes seres, observam esta natureza, a percepção que têm é de algo ilimitado. O aspecto ilimitado da natureza é o que de fato chamamos Buda, que significa liberto das limitações. Todo processo de treinamento ou educação segundo os valores budistas está centrado no treinamento dessa natureza, de modo que, em vez de focarmos nossa identidade estreita, reconhecemos nosso ser dentro dessa experiência de amplidão.

Educação como remoção de obstáculos

Os grandes mestres que ensinam sobre isto dizem que nossa natureza parece estreita devido a uma construção e chamam o processo de aprendizagem, a desconstrução, de remoção de obstáculos. Esta é uma abordagem geral. No treinamento budista, quando este aspecto é compreendido, quando é vivenciado, mesmo que parcialmente, há uma decorrência, um resultado. Este resultado é confiança, não propriamente cognitiva. Uma confiança nessa natureza que então se percebe está além de todas as histórias particulares que podem surgir para a identidade estreita construída. Mas isto não é teoria, é um aspecto vivenciado sensorial, cognitiva e emocionalmente.

Como este tipo de perspectiva pode manifestar-se na prática? Essencialmente, se isso tem valor, algum resultado prático deve ocorrer. Qual o resultado prático desta abordagem?

Podemos dizer que há uma vastidão de resultados práticos e precisaríamos de tempo para analisar todos. Especificamente em relação às comunidades humanas e ao benefício que os seres podem receber individualmente a partir disso, surgem a liberdade e a amplidão de visão que caracteriza esta liberdade. A liberdade manifesta-se através da amplitude de visão — coisas que os seres em geral vêem como obstáculos são vistas pelos grandes seres como situações com grande potencial de benefício.

É uma visão múltipla, é como se houvesse mais dimensões. Dito assim parece esotérico, místico. Estes aspectos podem estar incluídos, mas não necessariamente. Se nos defrontamos diretamente com um adversário ou inimigo no local de trabalho, as alternativas não são boas para nenhum dos dois. De acordo com estes ensinamentos, tudo que surge externamente é inseparável do que parece ser o mundo interno. Se percebemos apenas o exterior, estamos presos dentro de paredes concretas e constantes. Por outro lado, se percebemos a conexão entre os dois níveis, ganhamos liberdades inesperadas pelas mudanças externas ou internas. Podemos transformar os inimigos unilateralmente.

Existe uma classe de ensinamento que explica como transformar obstáculos em vantagens. Não se trata de usar uma visão idealista, mas de termos o poder de transformar unilateralmente as coisas que são obstáculos para nós e para os outros seres. Existe uma vastidão de conseqüências relacionadas com essa percepção da inseparatividade de um mundo externo e um interno. Perdemos muito quando congelamos um mundo externo em relação ao qual podemos apenas manobrar.

Todas as situações cármicas são impermanentes. Um exemplo disto é a diferença entre o reino dos deuses e o reino dos infernos. Vejamos uma situação em que os seres dos infernos estejam em uma mesa cheia de comida, mas seus braços sejam grandes demais e não possam ser dobrados. A mesma situação se repete no reino dos deuses, mas eles têm o discernimento de se alimentarem uns aos outros. Eis um exemplo típico de mudança de perspectiva. No inferno a comida está ali, a mesa está ali, a fome está ali, e o braço realmente não alcança a boca. Se aqueles seres pudessem apenas ampliar suas percepções e pensar nos outros e usufruir de sua liberdade, estariam saciados. É assim mesmo: quando usufruímos dessa liberdade, aparecem seres por todos os lados querendo ajudar. O deus se vangloria: "Que lugar maravilhoso, estou oferecendo comida a um, e 99 me oferecem comida!" No inferno o ser também está objetivamente certo: "Somos cem seres miseráveis."

Todos os problemas estão nesta categoria. Ou seja, temos graus de liberdade adicionais, mas será necessário nos transferirmos para outras paisagens mentais, ampliar nossas perspectivas, antes de que possamos usufruir de nossas liberdades.

A educação no budismo está voltada a oferecer liberdades que não percebemos usualmente. Liberdades em relação àquilo que chamamos de roda da vida. Estas liberdades só podem ser acessadas removendo-se os obstáculos construídos.

O papel do professor

O professor representa o ensinamento do Buda. Curiosamente, os ensinamentos do Buda não são budistas, apenas proporcionam a liberação dos já mencionados condicionamentos automáticos. Estes ensinamentos são importantes para todos os seres, independentemente de sua confissão de fé. No sistema budista não há qualquer ênfase em converter as pessoas, o que importa é ajudá-las a perceber mais profundamente as realidades e liberdades em cada situação que vivam e em cada papel com que se identifiquem. O ensinamento busca produzir a experiência de transcendência, ou seja, a liberdade de criar e estabelecer universos mentais, e também liberdade frente ao criado.

Para ser professor, o indivíduo deve ter ouvido os ensinamentos correspondentes e desenvolvido uma certa clareza vivencial sobre os temas. Sem isto, não pode ensinar. Por outro lado, quando a experiência estiver clara, e ele puder falar sobre a liberdade e visão de que já usufrui, reconhecerá que não é uma sabedoria pessoal sua, mas uma característica do próprio Buda. Neste sentido, a pessoa sente-se agora completamente inseparável do próprio Buda. Surge-lhe a compreensão profunda de que a mente do Buda é igual à mente de todos os seres, e há seres que usufruem disto de forma consciente e outros não.

Assim, surge uma imagem cósmica do Buda como um impulso universal em direção à liberdade e felicidade, e todos que usufruem disso e dedicam-se a facilitar o acesso dos outros a esta liberdade e felicidade são completamente inseparáveis do próprio Buda. Não é uma característica ou posse pessoal, mas uma condição de liberdade e felicidade. Desta experiência surge a noção de bodisatva — sua visão é ampla, e ele utiliza suas características pessoais particulares como meio de espelhar a natureza de liberdade que é inerente a todos. É como um lago que, justamente por ser um lago particular no espaço e tempo, reflete a natureza ilimitada da lua em sua superfície.

Lama Padma Santem

Fonte:http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=374

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PRÁTICA QUE RESUME TUDO

Resumindo, todo sofrimento vem do inimigo que é o nosso próprio apego ao ego; todo benefício deriva de outros seres, que então são como amigos ou parentes. Devemos tentar ajudá-los tanto quanto possível. Como Langri Tangpa Dorje Gyaltsen disse:



"De todos os profundos ensinamentos que já vi, só compreendi este: que todo dano e aflição foram provocados por mim, e todos benefícios e qualidades se devem aos outros. Portanto, todo meu ganho eu dou para os outros; toda perda, tomo para mim mesmo".



Ele percebeu que isso era o único significado de todas as escrituras que estudou, meditando sobre isso por toda sua vida.



Dilgo Khyentse Rinpoche, em Enlightened Courage.



Fonte:
http://www.samsara.blog.br/2008/09/prtica-que-resume-tudo.html

 

 

 

 

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O PRECONCEITO e AS DIFERENÇAS

As diferenças existem
Preconceitos também
Mas porque será?

As pessoas não toleram as diferenças
Pele, cabelo, forma física, classe social
Devemos respeitar

Cada um é diferente
Cada um tem seu estilo
Para que preconceito?
As pessoas não respeitam
Gordo, magro, pobre e rico
O que existe é diferença

As pessoas respeitar
Ao modo de pensar
Devemos lutar para isso acabar
O que vale apena é respeitar

Para que preconceito?
Tenha mesmo é o respeito.

Larissa Bandeira, 18Out09

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Poder da Paz

É meu desejo que o poder espiritual da paz toque as mentes de todas as pessoas na terra, irradiando da profunda paz de nossas próprias mentes, vencendo as barreiras políticas e religiosas, vencendo as barreiras do ego e da rigidez conceitual. A nossa primeira tarefa como pacifistas é limpar nossas mentes dos conflitos mentais causados pela ignorância, raiva, apego, inveja e orgulho. Os mestres espirituais podem nos guiar na purificação destes venenos e, através desta purificação, podemos aprender a essência da arte de promover a paz.

A paz interior que procuramos deveria ser tão absolutamente pura, tão estável, de modo que seja impossível de ser transformada em raiva por aqueles que vivem e lucram com a guerra, ou transformada em apego e medo ao se confrontar com o desprezo, o ódio e a morte. É necessária uma paciência infinita para se conquistar qualquer aspecto da paz mundial e a fonte desta paciência é o espaço de paz interior de onde você pode reconhecer, com perfeita clareza, que a guerra e o sofrimento são os reflexos externos dos venenos internos da mente.

Se você realmente entende que a verdadeira diferença entre os que fazem a paz e os que fazem a guerra é que aqueles que buscam a paz têm disciplina e controle sobre a raiva, o apego e a inveja egoístas, enquanto que os que fazem a guerra, em sua ignorância, manifestam os resultados destes venenos no mundo – se você verdadeiramente entende isso, você nunca se permitirá ser vencido por fatores externos ou internos.

Os budistas tibetanos usam o pavão como um símbolo do bodhisattva, o Guerreiro Desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres sencientes. Diz-se que o pavão se alimenta de plantas venenosas e as transmuta nas cores brilhantes de suas penas. O pavão não se envenena, assim como nós, que desejamos a paz, não nos envenenamos.

Ao encontrar os poderosos do mundo, sentados sobre suas máquinas de guerra, considere-os com estrita equanimidade. Argumente tão bem quanto você for capaz, mas esteja constantemente alerta para o estado de sua mente. Se começar a sentir raiva, recue. Se puder continuar sem raiva, talvez penetre no delírio terrível que causa a guerra e todos os seus sofrimentos infernais. Do claro espaço de sua paz interior, a compaixão deve se expandir para incluir todos os envolvidos na guerra – os soldados, apanhados pelo karma cruel de matar, que sacrificam seu renascimento precioso; os generais e políticos que querem trazer benefícios, mas causam destruição e morte; os civis, que são feridos, mortos e se tornam refugiados. A verdadeira compaixão é absolutamente neutra e abarca todos os tipos de sofrimento, sem se prender a certo ou errado, apego ou aversão.

O trabalho pela paz é, por si só, um caminho espiritual, um meio de desenvolver as qualidades perfeitas da mente e testar essas qualidades nos momentos de urgente necessidade, sofrimento extremo e morte. Não tenha medo de dedicar seu tempo, energia e riqueza.

Chagdud Tulku Rinpoche

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma troca justa

Eu farei uma troca justa:
o envelhecimento pelo que não envelhece,
as chamas pelo frescor:
a paz suprema,
o descanso incomparável
do jugo.

-- Thag I.32

Se, pela renúncia
a uma felicidade inferior,
é possível
alcançar uma felicidade superior,
que o homem sábio
abandone
a inferior
pela superior.

-- Dhp 290

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A prisão do samsara

Quando os textos tradicionais falam de "prisão" do samsara, insistindo sobre o caráter frustrante e doloroso das experiências que aí se vivem, não é que os Mestres ignorem os momentos de felicidade que também aí se podem encontrar. Mesmo numa prisão, uma refeição melhor ou um passeio ao ar livre são instantes muito apreciados. No entanto, em comparação com a liberdade de olhar para o céu, cheirar o mar e contemplar o pôr do Sol à vontade, os pequenos prazeres de um prisioneiro são coisa pouca.

Como prisioneiros que, resignados com a sua condição, ficam contentes com um maço de cigarros, também nós lutamos por algumas migalhas de bem-estar Obtemo-las com muito esforço, quase sempre ~ custa do sofrimento alheio, e pagamo-las bem caro. Alguns prisioneiros de pena perpétua resignam-se ao encarceramento, outros preocupam-se em melhorar as condições de vida, outros ainda só pensam na liberdade e, para se evadirem, são capazes de escavar um túnel com uma colher de chá ou de nadar nos esgotos durante dias.

É porque perdemos a memória da liberdade natural da mente que não temos uma tal motivação para escaparmos do samsara, que temos a impressão que nascemos na prisão e pensamos que não há mais nada. Como pássaro nascido na gaiola não conhecemos o céu, ignoramos para que servem as asas, nunca sentimos o gosto do vento nem nos embriagamos de luz. Portanto a vastidão do espaço aterroriza-nos.

Estes ensinamentos, vindos de longe no tempo e no espaço, despertam-nos para a realidade da situação. Aquilo que pensávamos ser a natureza inerente à condição humana é finalmente uma condição diminuída, sub-humana, enclausurada. Os Mestres que veiculam estes ensinamentos são o exemplo vivo do que um verdadeiro ser humano é, do ser em que cada um de nós se pode tornar. Ser tocado por alguém que se tenha aproximado da liberdade natural da mente pode inspirar-nos, levar-nos a reconhecer a realidade da situação em que estamos e querer melhorá-la.

Quem esteja totalmente resignado talvez nunca chegue a ouvir estes ensinamentos e, se ouvir, ser-lhe-ão indiferentes. Mas quem procure melhorar a sua situação pode, graças a eles, obter renascimentos nos mundos superiores, em lugares e situações agradáveis onde estará rodeado por seres que o respeitam e lhe querem bem.

Por fim, se pertencemos à classe dos irredutíveis apaixonados pela liberdade, podemos utilizar estes ensinamentos para melhorar as nossas condições de vida e vogar rumo â libertação, à alforria definitiva do sofrimento, tornando-nos então nós próprios uma fonte de inspiração para os outros.

Tsering Paldrön. A Arte da Vida: Valores Humanos no Pensamento Buddhista.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Livre e Fácil

Uma canção-vajra espontânea

A felicidade não pode ser encontrada
Através do grande esforço e força de vontade,
Mas já está presente no relaxamento aberto e no deixar ir.

Não se esforce,
Nada há a fazer ou não fazer.
Qualquer coisa que surja momentaneamente no corpo-mente
Não tem qualquer importância real,
Tem pouca realidade.
Por que se identificar e se apegar a isso,
Passando um julgamento sobre ela e sobre nós mesmos?

Muito melhor é simplesmente
Deixar todo o jogo acontecer por si mesmo,
Levantando-se e caindo de volta como ondas —
Sem mudar ou manipular qualquer coisa —
E perceber como tudo desaparece e reaparece,
Magicamente, de novo e de novo,
Num tempo sem fim.

Apenas nossa busca pela felicidade
Nos impede de vê-la.
É como um vívido arco-íris que você segue sem nem mesmo pegar,
Ou como um cachorro correndo atrás do seu próprio rabo.
Apesar de a paz e a felicidade não existirem
Como uma coisa ou lugar reais,
Elas estão sempre disponíveis
E o acompanham a cada instante.

Não acredite na realidade
Das experiência boas e ruins;
Elas são como o tempo efêmero de hoje,
Como arco-íris no céu.

Querendo agarrar o inagarrável,
Você fica exausto em vão.
Assim que você abrir e relaxar este punho fechado do apego,
O espaço infinito está lá — aberto, convidativo e confortável.

Faça uso desta espaçosidade, desta liberdade e bem-estar natural.
Não procure mais qualquer coisa.
Não vá para a floresta confusa
Procurar pelo grande elefante desperto
Que já está descansando quietamente em casa,
Na frente de sua própria lareira.

Nada a fazer ou não fazer,
Nada a forçar,
Nada a querer
E nada a perder —
Emaho! Maravilhoso!
Tudo acontece por si mesmo.

Lama Gendun Rinpoche

domingo, 23 de novembro de 2008

Pensamentos e Meditação

Quando estou em retiro, pensamentos dos três tempos surgem naturalmente. Mas estes pensamentos não são armazenados em uma conta bancária mental. Eles surgem naturalmente e desaparecem naturalmente. Se isto não fosse verdade, onde poderia haver um banco grande o bastante para manter todos eles? Agora, o simples fato de que os pensamentos surgem não é um obstáculo se, durante o surgimento e desaparecimento destes pensamentos, você for capaz de focalizar a luminosidade natural dos pensamentos em sim. Porém, quando os pensamentos surgem, se sua mente julgadora agarrá-los, isso pode ser um problema. Mas o simples surgimento e passagem de pensamentos em si não deve ser visto como um problema.

O que você pode fazer quando se encontra julgando os pensamentos? Primeiro, abandone a idéia de que você poderá ter resultados imediato em sua prática e nem mesmo deseje essa realização instantânea. Ela acontece vagarosamente, vagarosamente, passo a passo. Você pode obter realização por esse meio gradual? Não há razão pela qual não seja possível, porque bem agora você tem todas as causas e condições necessárias para realizar a iluminação. Você tem os ensinamento e a prática dos nove yanas, todos os quais são designados a trazer a iluminação nesta mesma vida. Além disso, há muitos exemplos de pessoas que realizaram a liberação no passado. Olhando para a linhagem de lamas do passado, de geração a geração, nos lembramos dos grandes mentores espirituais que realizaram a iluminação. Então, por que você não poderia atingir o mesmo resultado? Veja se há quaisquer diferenças reais entre aqueles adeptos do passado e você mesmo.

Se você tem o desejo de colocar os ensinamentos em prática, não há razão pela qual não possa produzir o resultado. Por outro lado, se você não tem esse desejo, então é claro que não haverá resultado. Do mesmo modo, sem prática não poderá haver qualquer resultado também. Não é algo que alguém possa fazer por você, do mesmo modo que eles não podem saciar a sua fome comendo seu jantar por você. se você está muito ocupado para tomar seu remédio, então você não pode ser curado. Talvez você possa patrocinar alguém para praticar o Dharma, o que pode ter bênçãos e mérito, mas não há como esta outra pessoa possa transferir seus realização e amadurecimento espiritual a você.

Gyatrul Rinpoche

sábado, 22 de novembro de 2008

Prática correta

A iluminação é uma flor que desabrocha. De nada adianta tentar abrir as pétalas de uma flor para fazê-la desabrochar – isso apenas a destrói. É melhor regar suas raízes. O esforço correto, a paciência e a meditação regam as raízes da iluminação. Assim ela desabrochará como um lótus em meio ao samsara.

Lama Padma Samten

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A extinção dos desejos

A busca de um objeto de desejo
causa sofrimento.
A conquista de um objeto de desejo
causa o temor de perdê-lo.
A perda de um objeto de desejo
causa extrema perturbação.
Em nenhum passo do caminho
se encontra alegria.
Se todos os desejos geram sofrimento dessa forma,
como é possível deles se livrar?
É possível livrar-se do desejo
aprendendo a encontrar,
na meditação profunda,
as alegrias do samadhi.

— extraído Shastra do Mahaprajnaparamita

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Atenção plena

O cerne da meditação budista é a prática da atenção plena. Quando praticamos a atenção plena, geramos anergia de Buda dentro de nós e ao nosso redor, e essa energia é capaz de salvar o mundo. Um Buda é alguém dotado de atenção plena o tempo inteiro. Nós somos budas em meio expediente apenas. É possível a cada um de nós gerar a energia da atenção plena em todos os momentos da vida cotidiana.

Thich Nhat Hanh [A Essência dos Ensinamentos de Buda, Rocco]

Esse instante

A verdade da vida não é uma meta a alcançar num determinado momento no futuro; é a realidade do passo dado neste preciso instante. Pensar na realidade como uma linha reta, uma progressão linear do princípio ao fim, de causa a efeito, da ideia à realização, é um erro. A realidade é um círculo infinito, e cada ponto da sua circunferência é ao mesmo tempo o centro, o ponto de partida, e o ponto de chegada.

Hogen Yamahata, On the Open Way