quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O Poder da Paz

É meu desejo que o poder espiritual da paz toque as mentes de todas as pessoas na terra, irradiando da profunda paz de nossas próprias mentes, vencendo as barreiras políticas e religiosas, vencendo as barreiras do ego e da rigidez conceitual. A nossa primeira tarefa como pacifistas é limpar nossas mentes dos conflitos mentais causados pela ignorância, raiva, apego, inveja e orgulho. Os mestres espirituais podem nos guiar na purificação destes venenos e, através desta purificação, podemos aprender a essência da arte de promover a paz.

A paz interior que procuramos deveria ser tão absolutamente pura, tão estável, de modo que seja impossível de ser transformada em raiva por aqueles que vivem e lucram com a guerra, ou transformada em apego e medo ao se confrontar com o desprezo, o ódio e a morte. É necessária uma paciência infinita para se conquistar qualquer aspecto da paz mundial e a fonte desta paciência é o espaço de paz interior de onde você pode reconhecer, com perfeita clareza, que a guerra e o sofrimento são os reflexos externos dos venenos internos da mente.

Se você realmente entende que a verdadeira diferença entre os que fazem a paz e os que fazem a guerra é que aqueles que buscam a paz têm disciplina e controle sobre a raiva, o apego e a inveja egoístas, enquanto que os que fazem a guerra, em sua ignorância, manifestam os resultados destes venenos no mundo – se você verdadeiramente entende isso, você nunca se permitirá ser vencido por fatores externos ou internos.

Os budistas tibetanos usam o pavão como um símbolo do bodhisattva, o Guerreiro Desperto que trabalha pela iluminação de todos os seres sencientes. Diz-se que o pavão se alimenta de plantas venenosas e as transmuta nas cores brilhantes de suas penas. O pavão não se envenena, assim como nós, que desejamos a paz, não nos envenenamos.

Ao encontrar os poderosos do mundo, sentados sobre suas máquinas de guerra, considere-os com estrita equanimidade. Argumente tão bem quanto você for capaz, mas esteja constantemente alerta para o estado de sua mente. Se começar a sentir raiva, recue. Se puder continuar sem raiva, talvez penetre no delírio terrível que causa a guerra e todos os seus sofrimentos infernais. Do claro espaço de sua paz interior, a compaixão deve se expandir para incluir todos os envolvidos na guerra – os soldados, apanhados pelo karma cruel de matar, que sacrificam seu renascimento precioso; os generais e políticos que querem trazer benefícios, mas causam destruição e morte; os civis, que são feridos, mortos e se tornam refugiados. A verdadeira compaixão é absolutamente neutra e abarca todos os tipos de sofrimento, sem se prender a certo ou errado, apego ou aversão.

O trabalho pela paz é, por si só, um caminho espiritual, um meio de desenvolver as qualidades perfeitas da mente e testar essas qualidades nos momentos de urgente necessidade, sofrimento extremo e morte. Não tenha medo de dedicar seu tempo, energia e riqueza.

Chagdud Tulku Rinpoche

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma troca justa

Eu farei uma troca justa:
o envelhecimento pelo que não envelhece,
as chamas pelo frescor:
a paz suprema,
o descanso incomparável
do jugo.

-- Thag I.32

Se, pela renúncia
a uma felicidade inferior,
é possível
alcançar uma felicidade superior,
que o homem sábio
abandone
a inferior
pela superior.

-- Dhp 290

terça-feira, 25 de novembro de 2008

A prisão do samsara

Quando os textos tradicionais falam de "prisão" do samsara, insistindo sobre o caráter frustrante e doloroso das experiências que aí se vivem, não é que os Mestres ignorem os momentos de felicidade que também aí se podem encontrar. Mesmo numa prisão, uma refeição melhor ou um passeio ao ar livre são instantes muito apreciados. No entanto, em comparação com a liberdade de olhar para o céu, cheirar o mar e contemplar o pôr do Sol à vontade, os pequenos prazeres de um prisioneiro são coisa pouca.

Como prisioneiros que, resignados com a sua condição, ficam contentes com um maço de cigarros, também nós lutamos por algumas migalhas de bem-estar Obtemo-las com muito esforço, quase sempre ~ custa do sofrimento alheio, e pagamo-las bem caro. Alguns prisioneiros de pena perpétua resignam-se ao encarceramento, outros preocupam-se em melhorar as condições de vida, outros ainda só pensam na liberdade e, para se evadirem, são capazes de escavar um túnel com uma colher de chá ou de nadar nos esgotos durante dias.

É porque perdemos a memória da liberdade natural da mente que não temos uma tal motivação para escaparmos do samsara, que temos a impressão que nascemos na prisão e pensamos que não há mais nada. Como pássaro nascido na gaiola não conhecemos o céu, ignoramos para que servem as asas, nunca sentimos o gosto do vento nem nos embriagamos de luz. Portanto a vastidão do espaço aterroriza-nos.

Estes ensinamentos, vindos de longe no tempo e no espaço, despertam-nos para a realidade da situação. Aquilo que pensávamos ser a natureza inerente à condição humana é finalmente uma condição diminuída, sub-humana, enclausurada. Os Mestres que veiculam estes ensinamentos são o exemplo vivo do que um verdadeiro ser humano é, do ser em que cada um de nós se pode tornar. Ser tocado por alguém que se tenha aproximado da liberdade natural da mente pode inspirar-nos, levar-nos a reconhecer a realidade da situação em que estamos e querer melhorá-la.

Quem esteja totalmente resignado talvez nunca chegue a ouvir estes ensinamentos e, se ouvir, ser-lhe-ão indiferentes. Mas quem procure melhorar a sua situação pode, graças a eles, obter renascimentos nos mundos superiores, em lugares e situações agradáveis onde estará rodeado por seres que o respeitam e lhe querem bem.

Por fim, se pertencemos à classe dos irredutíveis apaixonados pela liberdade, podemos utilizar estes ensinamentos para melhorar as nossas condições de vida e vogar rumo â libertação, à alforria definitiva do sofrimento, tornando-nos então nós próprios uma fonte de inspiração para os outros.

Tsering Paldrön. A Arte da Vida: Valores Humanos no Pensamento Buddhista.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Livre e Fácil

Uma canção-vajra espontânea

A felicidade não pode ser encontrada
Através do grande esforço e força de vontade,
Mas já está presente no relaxamento aberto e no deixar ir.

Não se esforce,
Nada há a fazer ou não fazer.
Qualquer coisa que surja momentaneamente no corpo-mente
Não tem qualquer importância real,
Tem pouca realidade.
Por que se identificar e se apegar a isso,
Passando um julgamento sobre ela e sobre nós mesmos?

Muito melhor é simplesmente
Deixar todo o jogo acontecer por si mesmo,
Levantando-se e caindo de volta como ondas —
Sem mudar ou manipular qualquer coisa —
E perceber como tudo desaparece e reaparece,
Magicamente, de novo e de novo,
Num tempo sem fim.

Apenas nossa busca pela felicidade
Nos impede de vê-la.
É como um vívido arco-íris que você segue sem nem mesmo pegar,
Ou como um cachorro correndo atrás do seu próprio rabo.
Apesar de a paz e a felicidade não existirem
Como uma coisa ou lugar reais,
Elas estão sempre disponíveis
E o acompanham a cada instante.

Não acredite na realidade
Das experiência boas e ruins;
Elas são como o tempo efêmero de hoje,
Como arco-íris no céu.

Querendo agarrar o inagarrável,
Você fica exausto em vão.
Assim que você abrir e relaxar este punho fechado do apego,
O espaço infinito está lá — aberto, convidativo e confortável.

Faça uso desta espaçosidade, desta liberdade e bem-estar natural.
Não procure mais qualquer coisa.
Não vá para a floresta confusa
Procurar pelo grande elefante desperto
Que já está descansando quietamente em casa,
Na frente de sua própria lareira.

Nada a fazer ou não fazer,
Nada a forçar,
Nada a querer
E nada a perder —
Emaho! Maravilhoso!
Tudo acontece por si mesmo.

Lama Gendun Rinpoche

domingo, 23 de novembro de 2008

Pensamentos e Meditação

Quando estou em retiro, pensamentos dos três tempos surgem naturalmente. Mas estes pensamentos não são armazenados em uma conta bancária mental. Eles surgem naturalmente e desaparecem naturalmente. Se isto não fosse verdade, onde poderia haver um banco grande o bastante para manter todos eles? Agora, o simples fato de que os pensamentos surgem não é um obstáculo se, durante o surgimento e desaparecimento destes pensamentos, você for capaz de focalizar a luminosidade natural dos pensamentos em sim. Porém, quando os pensamentos surgem, se sua mente julgadora agarrá-los, isso pode ser um problema. Mas o simples surgimento e passagem de pensamentos em si não deve ser visto como um problema.

O que você pode fazer quando se encontra julgando os pensamentos? Primeiro, abandone a idéia de que você poderá ter resultados imediato em sua prática e nem mesmo deseje essa realização instantânea. Ela acontece vagarosamente, vagarosamente, passo a passo. Você pode obter realização por esse meio gradual? Não há razão pela qual não seja possível, porque bem agora você tem todas as causas e condições necessárias para realizar a iluminação. Você tem os ensinamento e a prática dos nove yanas, todos os quais são designados a trazer a iluminação nesta mesma vida. Além disso, há muitos exemplos de pessoas que realizaram a liberação no passado. Olhando para a linhagem de lamas do passado, de geração a geração, nos lembramos dos grandes mentores espirituais que realizaram a iluminação. Então, por que você não poderia atingir o mesmo resultado? Veja se há quaisquer diferenças reais entre aqueles adeptos do passado e você mesmo.

Se você tem o desejo de colocar os ensinamentos em prática, não há razão pela qual não possa produzir o resultado. Por outro lado, se você não tem esse desejo, então é claro que não haverá resultado. Do mesmo modo, sem prática não poderá haver qualquer resultado também. Não é algo que alguém possa fazer por você, do mesmo modo que eles não podem saciar a sua fome comendo seu jantar por você. se você está muito ocupado para tomar seu remédio, então você não pode ser curado. Talvez você possa patrocinar alguém para praticar o Dharma, o que pode ter bênçãos e mérito, mas não há como esta outra pessoa possa transferir seus realização e amadurecimento espiritual a você.

Gyatrul Rinpoche

sábado, 22 de novembro de 2008

Prática correta

A iluminação é uma flor que desabrocha. De nada adianta tentar abrir as pétalas de uma flor para fazê-la desabrochar – isso apenas a destrói. É melhor regar suas raízes. O esforço correto, a paciência e a meditação regam as raízes da iluminação. Assim ela desabrochará como um lótus em meio ao samsara.

Lama Padma Samten

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A extinção dos desejos

A busca de um objeto de desejo
causa sofrimento.
A conquista de um objeto de desejo
causa o temor de perdê-lo.
A perda de um objeto de desejo
causa extrema perturbação.
Em nenhum passo do caminho
se encontra alegria.
Se todos os desejos geram sofrimento dessa forma,
como é possível deles se livrar?
É possível livrar-se do desejo
aprendendo a encontrar,
na meditação profunda,
as alegrias do samadhi.

— extraído Shastra do Mahaprajnaparamita

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Atenção plena

O cerne da meditação budista é a prática da atenção plena. Quando praticamos a atenção plena, geramos anergia de Buda dentro de nós e ao nosso redor, e essa energia é capaz de salvar o mundo. Um Buda é alguém dotado de atenção plena o tempo inteiro. Nós somos budas em meio expediente apenas. É possível a cada um de nós gerar a energia da atenção plena em todos os momentos da vida cotidiana.

Thich Nhat Hanh [A Essência dos Ensinamentos de Buda, Rocco]

Esse instante

A verdade da vida não é uma meta a alcançar num determinado momento no futuro; é a realidade do passo dado neste preciso instante. Pensar na realidade como uma linha reta, uma progressão linear do princípio ao fim, de causa a efeito, da ideia à realização, é um erro. A realidade é um círculo infinito, e cada ponto da sua circunferência é ao mesmo tempo o centro, o ponto de partida, e o ponto de chegada.

Hogen Yamahata, On the Open Way

domingo, 16 de novembro de 2008

Todos os que se aperfeiçoam no samadhi Mahayana, e todos os
que ingressam no caminho do bodhisattva ,começam com o comum e através dele
alcançam o Nirvana.
— extraído do Sutra
Lankavatara

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O padeiro e o monge

Havia um monge budista ocupando um templo, mas ele precisava viajar a uma cidade longínqua. Então, ele pediu ao vizinho para que cuidasse do templo na sua ausência. Esse vizinho era dono da padaria da localidade, e, como é natural, sendo o dono da padaria não sabia nada sobre as doutrinas budistas. Mas aceitou tomar conta do templo com muita boa vontade.
Logo depois da partida do dono do templo, um monge viajante chegou à aldeia. Naquela época existia entre os monges a tradição de debate verbal em relação aos seus entendimentos sobre o budismo. Quem ganhasse o debate ficava com o templo e quem perdesse tinha de ir embora. Chamava-se a isto uma batalha do Dharma. Hoje, este costume ainda existe. Com muito cerimonial mas ainda existe.
Bem, o sujeito ficou muito preocupado com a notícia da chegada do monge viajante, já que ele era apenas o dono da padaria. Mas o chefe da aldeia veio até ele e disse: “Você faz o seguinte: raspa a cabeça, coloca a roupa de monge e depois se senta contra a parede como fazem os monges. Você tem que se conscientizar de que está treinando o silêncio. Assim, não precisa falar. Se você não falar, nada será revelado.” “Ah, está combinado”, disse o dono da padaria. Assim ele fez e ficou esperando. O monge viajante chegou, começou a perguntar, mas o monge da padaria estava sentado, em silêncio. “Ah”, pensou o viajante, “ele está fazendo o treinamento do silêncio. Não pode quebrar o treinamento e isto tem que ser respeitado. Mas já que estou aqui com tempo, vou tentar me comunicar com ele através de gestos”. E fez um gesto querendo dizer: “como é que está o seu coração?” O da padaria respondeu com outro gesto: “o meu coração é grande como o oceano..” “Ah”, entendeu o viajante, ele respondeu “grande como o oceano, o universo inteiro”. Universo inteiro significa dez direções, os pontos cardeais, e mais o meio, e em cima e em baixo. E fez outro gesto querendo dizer: “e para viver neste mundo, nas dez direções, como é que eu posso viver?” “São importantes”, respondeu, gesticulando, o monge da padaria, “os cinco preceitos: não matar, não roubar, etc.” O monge viajante fez outro gesto: “Então, o que são os Três Tesouros, Buda, Dharma, e Sangha?” O dono da padaria respondeu, com gestos: “Está muito perto de você, não pode procurar longe. Está aqui”. Com esta resposta o monge viajante se assustou: “Ah, está certo, ele é um grande monge”, pensou. E foi embora. Logo depois, o chefe da aldeia chegou e perguntou ao dono da padaria: “O que foi que aconteceu que aquele monge foi embora?” “O monge viajante era muito doido, não é?” perguntou o dono da padaria. “Em primeiro lugar perguntou, com gestos, pelo pão da minha padaria. Por que é que era tão pequeno. Eu respondi, com gestos, querendo dizer: Não, é muito grande. Ele então me perguntou: Quanto custa o pão? Gesticulei querendo dizer. Cinquenta centavos. Aí ele perguntou: Abaixa para trinta centavos? Eu respondi com gestos: De jeito nenhum. E ele foi embora”.
Esta história é muito engraçada, mas é exatamente isto o que está acontecendo no nosso mundo. Estamos vivendo dentro da nossa consciência. O monge viajante está vivendo dentro das teorias budistas, do treinamento etc., mas o dono da padaria não, ele está é preocupado com a qualidade do pão, quanto é que ele vai ganhar. É assim que cada um vive o seu mundo. Seu mundo significa aquilo que cada um está depositando dentro de sua consciência. Cada um tem os seus Karmas, particulares e coletivos. Dentro de uma só pessoa estão mais de trinta bilhões de anos passados e as experiências estão depositadas como sementes. Estas sementes dependem de condições, e quando existem estas condições, elas brotam e a árvore aparece.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Buddha Interior

Observe e procure sua mente não-nascida;
Não procure por qualquer satisfação no samsara.

Atingi todo o meu conhecimento observando a mente interior;
Assim, todos os meus pensamentos tornaram-se os ensinamentos do Dharma
E os fenômenos aparentes são os livros necessários.

Procurar o rosto inato da própria mente, que é suprema —
Como a meditação comum poderia fazer isso?

Aquele que realiza a natureza de sua própria mente
Sabe que a ela é a consciência da sabedoria
E não comete mais o engano de procurar o Buddha em outras fontes.

De fato, o Buddha não pode ser encontrado pela busca;
Então, contemple a sua própria mente.

Este é o mais elevado ensinamento que se pode praticar;
Esta própria mente é o Tathagatagarbha,
A natureza de Buddha, o ventre dos Buddhas.

Milarepa, 1040-1123

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A Interexistência

Se você é poeta, vê claramente uma nuvem em um papel em branco. Se não existir a nuvem, a chuva não cai. Se não cair a chuva, a árvore não cresce. Se não cresce a árvore, não se faz papel. Então, podemos dizer que o papel e a nuvem se encontram em interexistência. Se observarmos mais profundamente o papel, veremos nele a luz do sol. Sem a luz do sol, o mato não cresce. Ou melhor, sem ela, nada no mundo cresce. Por isso, reconhecemos que a luz do sol também existe no papel em branco. O papel e a luz do sol encontram-se em interexistência. Se continuarmos observando profundamente, veremos o lenhador que cortou a árvore posteriormente levada à marcenaria.
Veremos também o trigo no papel. Sabemos que o lenhador não pode existir sem o pão de cada dia. Por isso, o trigo, a matéria-prima do pão, também existe no papel. Pensando desta maneira, reconhecemos que um papel branco não pode existir quando faltar qualquer um destes elementos. Não posso citar nada que não esteja aqui, agora. O tempo, o espaço, a chuva, os minerais contidos no solo, a luz do sol, as nuvens, os rios, o calor... tudo está aqui, agora. Não podemos existir sozinhos.
Este papel branco é totalmente constituído de "elementos que não são papel". Se devolvermos todos os "elementos que não sejam papel" à sua origem, o papel deixará de existir. O papel não existirá se forem tirados os "elementos que não sejam papel". O papel, em sua espessura fina, contém tudo do universo. Nele, não há nada que não exista em interdependência. A inexistência de elementos independentes significa que tudo é satisfeito por tudo.Temos que existir em interexistência com os demais, assim como um papel que existe porque todo os demais elementos existem.
(Thich Nhat Hanh, citado em Caminho Zen)

A Interdependência

S.S. o Dalai Lama

Considero particularmente útil o conceito de origem dependente formulado pela escola de filosofia buddhista Madhyamika. De acordo com esse conceito, podemos compreender como as coisas ocorrem de três maneiras diferentes. Num primeiro nível, recorre-se ao princípio de causa e efeito, pelo qual todas as coisas e acontecimentos surgem dependendo de uma complexa rede de causas e condições relacionadas entre si. Sendo assim, nada nem nenhum acontecimento pode vir a existir ou permanecer existindo por si só. Por exemplo, se eu pegar um punhado de barro e moldá-lo, posso fazer um vaso vir a existir. O vaso existe como resultado de meus atos. Ao mesmo tempo, é também o resultado de uma miríade de outras causas e condições. Estas abrangem a combinação de barro e água que forma a matéria-prima do vaso. Em acréscimo, há o agrupamento das moléculas, dos átomos e outras diminutas partículas que formam esses componentes. Em seguida, é preciso levar em conta as circunstâncias que levavam à minha decisão de fazer um vaso. E existem ainda as condições que cooperam ou interferem nas minhas ações à medida que dou forma ao barro. Todos esses diferentes fatores deixam claro que meu vaso não pode vir a existir independentemente de suas causas e condições. Ou seja, ele tem uma origem dependente, sua criação está subordinada a essas causas e condições.Num segundo nível, a interdependência pode ser compreendida em termos da mútua dependência que existe entre as partes e o todo. Sem as partes, não pode haver o todo e, sem o todo, o conceito de parte não tem sentido. A idéia de todo implica partes, mas cada uma dessas partes precisa ser considerada como um todo composto de suas próprias partes.No terceiro nível, pode-se dizer que todos os fenômenos têm uma origem dependente porque, quando os analisamos, verificamos que, em essência, eles não possuem uma identidade. Isto pode ser compreendido melhor se pensarmos na maneira como nos referimos a certos fenômenos. Por exemplo, as palavras "ação" e "agente": uma pressupõe a existência da outra. Assim como "pai" e "filho". A pessoa só pode ser um pai se tiver filhos. E um filho ou uma filha são assim chamados apenas como referência ao fato de terem pais. A mesma relação de mútua dependência é vista na linguagem que utilizamos para definir ramos de atividade ou profissões. Determinados indivíduos são chamados de fazendeiros em função de seu trabalho no campo. Os médicos são assim chamados por causa de seu trabalho na área de medicina.De maneira mais sutil, as coisas e acontecimentos podem ser compreendidos em termos de origem dependente quando, por exemplo perguntamos: o que é exatamente um vaso de barro? Quando procuramos algo que possa ser definido como sua identidade final, verificamos que a própria existência do vaso de barro — e, implicitamente, a de todos os outros fenômenos — é, até certo ponto, provisória e determinada pelas convenções. Quando indagamos se sua identidade é determinada por sua forma, sua função, suas partes específicas (ou seja, ser composto de barro, água, etc.), constatamos que a palavra "vaso" não passa de uma designação verbal. Não há uma única característica que se possa dizer que o identifica. Muito menos a totalidade de suas características. Podemos imaginar vasos de formas diferentes que não deixam de ser vasos. E porque só podemos realmente falar de sua existência em relação a uma rede complexa de causas e condições, se o encararmos segundo esta perspectiva, o vaso não tem de fato nenhuma propriedade que o defina. Em outras palavras, não existe em si ou por si, mas é antes de tudo originariamente dependente.No que se refere aos fenômenos mentais, verificamos que mais uma vez existe uma dependência. Neste caso, entre aquele que percebe e aquilo que é percebido. Tomemos como exemplo a percepção de uma flor. Em primeiro lugar, para que se possa perceber uma flor é preciso haver um órgão sensível. Segundo, precisa haver uma condição — neste caso, a própria flor. Em terceiro, para que ocorra a percepção é preciso haver algo que direcione a atenção daquele que percebe para o objeto. Então, através da interação causal dessas condições, ocorre um acontecimento cognitivo a que chamamos de percepção de uma flor. Agora vamos examinar em que consiste exatamente esse acontecimento. Seria apenas o funcionamento da faculdade sensorial? Seria apenas a interação entre essa faculdade sensorial e a própria flor? Ou seria outra coisa? Vemos que, no final, não conseguimos compreender o conceito de percepção a não ser dentro do contexto de uma intricada e imprecisa série de causas e condições.Uma outra maneira de compreender o conceito de origem dependente é considerar o fenômeno do tempo. Em geral, presumimos que há uma entidade com existência independente a que chamamos de tempo. Falamos de tempo passado, presente e futuro. Entretanto, quando examinamos melhor o assunto, vemos que esse conceito também é uma convenção. Verificamos que a expressão "momento presente" é apenas um rótulo que indica a interface entre os tempos "passado" e "futuro". Não podemos na realidade localizar com precisão o presente. O passado está apenas uma fração de segundo antes do suposto momento presente; apenas uma fração de segundo depois está o futuro. No entanto, se dissermos que o momento presente é "agora", assim que acabarmos de pronunciar esta palavra ele já estará no passado. Se sustentássemos que, mesmo assim, deve haver um único momento indivisível pelo passado ou pelo futuro, não haveria nenhuma razão pra separarmos presente, passado e futuro. Se houvesse um único momento indivisível, só teríamos o presente. Sem o conceito de presente, porém, fica difícil falar de passado e futuro já que ambos sem dúvida dependem do presente. Além do mais, se nossa análise nos fizesse concluir que então o presente não existe, teríamos de negar não só uma convenção mundial, como também a nossa própria existência. De fato, quando começamos a analisar nossa experiência com relação ao tempo, vemos que o passado desaparece e o futuro ainda está para chegar. Experimentamos apenas o presente. E o presente só toma forma como dependente do passado e do futuro.

Dalai Lama. Uma Ética para o Novo Milênio.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Buda através da meditação apenas

Quando jovem, Baso praticava incessantemente a Meditação. Certa ocasião, seu Mestre Nangaku aproximou-se dele e perguntou-lhe:
- Por que praticas tanta Meditação?
- Para me tornar um Buddha.
O Mestre tomou de uma telha e começou a esfregá-la com um pedra. Intrigado, Baso perguntou:
- O que fazeis com essa telha?
- Pretendo transformá-la num espelho.
- Mas por mais que a esfregueis, ela jamais se transformará num espelho! será sempre uma pedra.
- O mesmo posso dizer de ti. Por mais que pratiques Meditação, não te tornarás Buda.
- Então o que fazer?
- É como fazer um boi andar.
- Não entendo.
- Quando queres fazer um carro de bois andar, bates no boi ou no carro?
Baso não soube o que responder e então o Mestre continuou:
- Buscar o Estado de Buda fazendo apenas Meditação é matar o Buda. Dessa maneira, não acharás o caminho certo.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Posturas de meditação

Há diversas posturas que podem ser usadas, e você deverá tentar cada uma delas para descobrir qual é a que mais lhe convêm. Isto não quer dizer que não deve perseverar com uma das posturas mais estáveis simplesmente porque parece no primeiro teste, desconfortável. Paciência e prática são necessárias para seguir uma boa postura. As posturas recomendadas estão descritas aqui por ordem crescente, segundo a sua estabilidade, equilíbrio e utilidade para uma boa prática. É perfeitamente aceitável começar com a posição nº 1; muito poucas pessoas podem sentar-se na posição nº 5 para começar. Em todas as posturas, o ideal é sentar de modo que o corpo esteja perfeitamente erecto e uma linha vertical possa ser traçada partindo do centro da testa, pelo nariz, queixo, garganta e umbigo. Consegue-se isto empurrando a cintura para a frente e o abdómen para fora. Nesta posição, o peso do corpo está concentrado na barriga ou no baixo ventre . Esta área é o foco da respiração e concentração da meditação. Os olhos devem ficar nem totalmente abertos, nem totalmente fechados, mas abaixados num ângulo de 45 graus; não focalizados, fitando o chão a 2 metros em frente, ou olhando na linha do horizonte.

Posição 1

Esta posição é para as pessoas que estão pouco flexíveis devido à falta de exercício ou devido à idade. Sente-se num banco ou cadeira que tenha uma altura que permita assentar os pés no firmemente no chão. As costas devem ficar erectas, os ombros para baixo, e a cabeça mantida na posição vertical, como se uma fina linha de algodão partisse da sua cabeça para o tecto esticando as vértebras da espinha num alinhamento natural. Descanse as mãos no colo, a mão direita sob a esquerda, as palmas voltadas para cima. Os polegares tocando-se nas pontas para formar uma linha paralela com os dedos.Para as próximas posições você precisa de um cobertor dobrado de cerca de 1 metros quadrado e uma almofada firme. Coloque a almofada em cima do cobertor; as pontas são assumidas com a almofada debaixo das nádegas.
Posição 2

Esta é a posição mais fácil para principiantes. Estique a esteira de modo que possa sentar-se sobre os joelhos, pernas, dorso dos pés e nádegas. Os joelhos e as nádegas formam um triângulo. Cabeça, ombros e mãos ficam postos da mesma maneira que na posição nº 1.






Posição 3

Esta é a posição birmanesa, uma postura popular entre os seguidores ocidentais do Zen. as pernas ficam cruzadas, porém ambos os pés ficam nivelados sobre o cobertor. As nádegas ficam sobre um terço ou metade da almofada. Ambos os joelhos devem tocar o cobertor. Se não estiverem tocando, você pode ajudá-los colocando uma pequena almofada sob o joelho ( ou joelhos ) para se apoiar. É importante estar sentado sobre uma base firme, formada pelo triangulo dos joelhos e nádegas. Cabeça, ombros e mãos ficam iguais, como na posição nº 1; do contrário, será muito difícil manter as costas direitas e relaxar a respiração dentro da postura



Posição 4
Esta é a posição de meio lótus. O pé esquerdo está sob a coxa direita, e o pé direito sobre a coxa esquerda, ou vice-versa. Ambas as variações são igualmente boas. Esta posição é bastante difícil para os principiantes, mas sustenta a parte inferior das costas melhor que nas posições nº 2 e 3. Se você adoptar esta postura, será importante alternar a posição das pernas cada vez; de contrário, terá a sensação de estar pendendo para um lado.




Posição 5

Esta é a posição do lótus completo, na qual o pé direito descansa sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita. O lótus é a melhor posição para sentar, já que forma um triangulo perfeito entre os joelhos e as nádegas, apoiando firmemente a parte inferior das costas e produzindo grande estabilidade. Infelizmente, o lótus é também a mais difícil de realizar e geralmente está fora do alcance do principiante e mesmo de muitos estudantes maduros. Não se preocupe se não conseguir fazer um lótus - a maioria das pessoas está nessa situação.




Posição das mãos:

Em algumas escolas do budismo, medita-se colocando-se as mãos nos joelhos, como se segurando-os.
Mas o mais comum é a posição de mudrá cósmico: Mão direita palma para cima, lamina de encontro à parte inferior da barriga. Mão esquerda em cima da direita, articulações sobrepostas. Polegares com as pontas tocando-se levemente em forma ovaladas.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Pensamentos

"Qualquer coisa que você pense é ilusão."
Dainin Katagiri

domingo, 2 de novembro de 2008

Meditação sobre a Respiração

A principal atividade mental usada nas meditações sobre a respiração é a concentração, a habilidade de manter a atenção focalizada sobre o que quer que se esteja fazendo, sem se esquecer ou vagar para outros objetos. Aqui, o objeto de concentração é a própria respiração. Em sua forma mais efetiva, a concentração é acompanhada pela atenção discriminativa, uma outra função da mente que, como um guarda, está alerta contra distrações e pensamentos perturbadores.
A concentração é essencial para uma meditação ter sucesso; e em nossas vidas cotidianas, ela nos mantém centrados, alertas e conscientes, ajudando-nos a saber o que está acontecendo com nossa mente — assim que algo acontecer — e, deste modo, a lidar habilmente com os problemas — assim que surgirem.
Há vários métodos para cultivar a atenção, ensinados em diferentes tradições; duas variações são ensinadas aqui. Escolha uma que você achar mais confortável e a pratique consistentemente — é melhor não mudar de uma para outra.
Você pode usar uma meditação sobre a respiração — também chamada meditação da atenção — tanto como sua prática principal quanto como uma preliminar para outras meditações. É uma técnica inestimável: a prática regular ajuda a obter, gradualmente, o controle sobre a mente. Você se sentirá mais relaxado e mais capaz de aproveitar a vida, de ter mais sensibilidade a você mesmo e às pessoas e coisas ao seu redor. Usando sua crescente atenção em outras meditações, você será capaz de manter sua concentração por períodos mais longos.
Portanto, a meditação sobre a respiração é importante tanto para os iniciantes quanto para os meditadores avançados: para aqueles que querem uma técnica simples para relaxar e acalmar a mente, e para aqueles meditadores sérios que devotam suas vidas ao desenvolvimento espiritual.

A prática

Sente-se com as costas eretas e relaxe seu corpo. Traga à mente a sua motivação, ou objetivo, para fazer esta meditação, e decida a duração da sessão em que você irá manter sua atenção sobre o objeto de concentração para alcançar seu objetivo.
Escolha um dos seguintes métodos de praticar a atenção sobre a respiração.
Focalize sua atenção sobre a sensação na ponta de suas narinas, enquanto o ar entra e sai em seu corpo. Mantenha a sua atenção sobre esta percepção sutil e observe a duração total de cada inalação e exalação. Se preferir, você pode contar, mentalmente, ciclos de cinco ou dez respirações, começando novamente no "um" se você perder a contagem ou se a sua mente vaguear.
Use o método descrito acima, mas focalize o movimento do abdômen em cada inalação e exalação.
Em qualquer método que você escolha, respire normal e gentilmente. Inevitavelmente, pensamentos aparecerão, mas mantenha uma atitude neutra diante deles, não sendo atraído nem repelido por eles. Em outras palavras, não reaja com desgosto, preocupação, excitação ou apego a qualquer pensamento, imagem ou sensação que surja. Simplesmente perceba sua existência e volte sua atenção ao objeto de meditação. Mesmo se você tiver que fazer isto cinqüenta vezes por minuto, não se sinta frustrado! Seja paciente e persistente; eventualmente, seus pensamentos se acalmarão.
Imagine que sua mente é como um lago calmo e claro, ou como um céu vasto e vazio: ondas aparecem sobre a superfície do lago e nuvens passam pelo céu, mas elas logo desaparecem, sem alterar a calma natural. Os pensamentos vêm e vão; eles são impermanentes, momentâneos. Perceba-os e deixe-os ir, voltando sua atenção, de novo e de novo, à respiração.
Fique contente em permanecer no presente. Aceite qualquer disposição mental em que você esteja e o que quer que surja da mente. Esteja livre da expectativa, do apego e da frustração. Não deseje estar onde quer que seja, fazendo o que quer que seja, ou mesmo se sentido de outra forma. Fique contente, assim como você está.
Quando aumentar a sua habilidade se desenvolver e de evitar as distrações, leve sua atenção um passo adiante. Faça notas mentais sobre a natureza dos pensamentos que surgem, tais como, "pensando na minha amiga", "pensando no café da manhã", "ouvindo um pássaro", "sentido fome", "sentindo-me chateado". Ainda mais simples, você pode notar, "fantasia", "apego", "memória", "som", "dor". Assim que você notar o pensamento ou sentimento, deixe-o ir, relembrando sua natureza impermanente.
Uma outra técnica é usar suas distrações para ajudá-lo a obter o insight sobre a natureza da mente. Quando um pensamento surgir, ao invés de focalizar o próprio pensamento, focalize o pensador. Isto significa que uma parte da mente, a atenção discriminativa, dá uma olhada na outra parte, a distração. O objeto perturbador desaparecerá, mas mantenha sua atenção sobre o pensador por quanto tempo puder. Novamente, quando outro pensamento surgir, focalize o pensador e siga o mesmo procedimento. Uma vez que a distração tenha cessado, volte a observar a respiração.
Estes métodos para lidar com as distrações podem ser aplicados a qualquer situação. É inútil ignorar e suprimir os pensamentos perturbadores ou a energia negativa, pois eles ocorrerão persistentemente.
Durante a conclusão de sua sessão, dedique a energia positiva criada por sua meditação à realização do objetivo com o qual você começou esta prática.


(McDonald, Kathleen. How to Meditate: A Practical Guide.Editado por Robina Courtin. Ithaca: Snow Lion, 1998. Pág. 44-46.)

sábado, 1 de novembro de 2008

O que é a mente?

A mente, ou consciência, está no coração da teoria e prática buddhistas, e nos últimos 2.500 anos, meditadores vêm investigando-a e usando-a como um meio de transcender a existência insatisfatória e de atingir a paz perfeita. Diz-se que toda felicidade, comum e sublime, é atingida pela compreensão e transformação de nossa própria mente.
Um tipo de energia não-física, a função da mente é conhecer, experienciar. É a própria consciência. É clara por natureza e reflete tudo o que experiencia, assim como um lago calmo reflete as montanhas e florestas que estão ao seu redor.
A mente muda de momento a momento. É um continuum sem início, como um fluxo sempre em movimento: o momento-mental prévio dá origem a este momento-mental, que dá origem ao próximo momento-mental e assim por diante. É o nome geral dado à totalidade de nossas experiências conscientes e inconscientes: cada um de nós é o centro de um mundo de pensamentos, percepções, sentimentos, memórias, sonhos — tudo isto é a mente.
A mente não é uma coisa física que tem pensamentos e sentimentos; essas próprias experiências são a mente. Por ser sem matéria, ela é diferente do corpo, apesar de mente e corpo serem interconectados e interdependentes. Este relacionamento explica porque, por exemplo, as doenças e desconfortos físicos podem afetar a mente, e por que as atitudes mentais, por sua vez, podem dar origem tanto à cura quanto aos problemas físicos.
A mente pode ser comparada a um oceano, e os eventos mentais momentâneos — como a felicidade, a irritação, as fantasias e a tristeza — às ondas que sobem e descem sobre sua superfície. Assim como as ondas podem ser apaziguadas para revelar a calma das profundezas do oceano, assim também é possível acalmar a turbulência de nossa mente para revelar sua clareza natural.
A habilidade para fazer isto está dentro da própria mente, e a chave para a mente é a meditação.

(McDonald, Kathleen. How to Meditate: A Practical Guide.Editado por Robina Courtin. Ithaca: Snow Lion, 1998. Pág. 12-16.)